A conservadora Sanae Takaichi, de 64 anos, acaba de entrar para a história política japonesa. No dia 21 de outubro, a parlamentar foi escolhida como primeira-ministra do Japão, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo em um país que ainda enfrenta grandes desigualdades de gênero.

Fã declarada de Margaret Thatcher, a ex-premiê britânica conhecida como a “Dama de Ferro”, Takaichi costumava dizer que desejava se tornar “a dama de ferro do Japão”. Agora, poderá transformar a metáfora em prática.

Representante da ala mais à direita do Partido Liberal Democrata, o PLD, ela é conhecida pelo discurso firme e por posturas ultraconservadoras.

Apesar do simbolismo de sua eleição, Takaichi deixou claro em seu primeiro discurso como premiê que as pautas de igualdade de gênero não estão entre suas prioridades.

Mesmo já tendo comandado pastas como Economia, Assuntos Internos e Igualdade de Gênero, a nova primeira-ministra sempre manteve distância dos debates sobre o papel das mulheres na sociedade japonesa.

Takaichi apoia a sucessão exclusivamente masculina na família imperial e se opõe a mudanças na lei do século 19 que obriga casais a terem o mesmo sobrenome.

Apesar das convicções tradicionais, a premiê defende políticas de apoio à saúde feminina e ao tratamento de fertilidade, dentro de uma lógica voltada ao incentivo da maternidade.

Ela também já falou publicamente sobre as próprias dificuldades com os sintomas da menopausa, ressaltando a importância de educar os homens sobre o tema para melhorar o ambiente escolar e profissional das mulheres.

Natural da província de Nara, Takaichi iniciou a carreira política em 1993, quando foi eleita deputada em sua cidade natal.

Desde então, ocupou postos de destaque no PLD e em governos de figuras centrais do partido, como os ex-primeiros-ministros Shinzo Abe, assassinado em 2022, e Fumio Kishida.

A nova premiê também é conhecida por visões revisionistas sobre a história do país. Ela já se recusou a reconhecer as atrocidades cometidas pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial, negando o uso de coerção contra trabalhadores coreanos e mulheres escravizadas pelo Exército.

Takaichi participou de campanhas para excluir referências à escravidão de livros escolares — posições que, segundo analistas, podem prejudicar as relações diplomáticas com China e Coreia do Sul.

Quando jovem, ela foi baterista de uma banda de heavy metal e apaixonada por motocicletas.

Essa combinação de paixões são vistas como incomuns para alguém que hoje simboliza o conservadorismo japonês.

Conhecida pela disciplina rigorosa, Takaichi costuma descrever-se como uma “workaholic”. Ao assumir o cargo, ela fez um discurso de tom duro aos colegas de partido: pediu que todos “trabalhem como um cavalo”.

Depois de duas tentativas frustradas de liderar o PLD, Takaichi afirma ter aprendido a cultivar alianças e relações políticas dentro do partido.

No campo econômico, o maior desafio da nova premiê será conter a alta no custo de vida e estabilizar a quarta maior economia do mundo.

Takaichi chega ao cargo máximo do governo japonês após ser eleita líder do enfraquecido PLD, substituindo o ex-premiê Shigeru Ishiba, que renunciou após derrotas eleitorais consecutivas.

Inspirada em Margaret Thatcher - foto -, ela defende o fortalecimento das Forças Armadas, o investimento em fusão nuclear e políticas mais duras sobre imigração.

Com uma trajetória marcada por disciplina, conservadorismo e ambição, Sanae Takaichi entra para a história como a primeira mulher a comandar o Japão — e promete fazê-lo com a mão firme que sempre admirou em sua ídola britânica.