“Ele é o maior comediante vivo”. Foi com esta frase que Charles Chaplin expressou sua admiração por Mario Moreno, o Cantinflas. O Flipar conta a seguir quem foi esse humorista mexicano que impressionou com seu talento o criador de Carlitos.

Mario Fortino Alfonso Moreno Reyes nasceu em 12 de agosto de 1911 na Cidade do México, em meio a dificuldades econômicas e em uma família numerosa.

Precocemente, ele teve que trabalhar, acumulando ofícios diversos - de engraxate a motorista de táxi, de pugilista amador a aprendiz de toureiro - até encontrar no espetáculo sua verdadeira vocação.

Foi nos circos e nos teatros populares de variedades que Moreno começou a experimentar a comédia de improviso. Uma noite, ao substituir um apresentador ausente, ele falou sem roteiro algum e encantou a plateia.

Dessa “bagunça organizada” nasceu o tipo que viria a ser tão amado: o personagem do homem simples, malandro, bom de coração, cujo modo de falar fazia rir e refletir.

O nome “Cantinflas” foi adotado logo no início da carreira. A origem é desconhecida, embora haja uma versão de que teria surgido de “cuánto inflas” - algo como “quanto você exagera”.

O nome acabou ficando e passou a representar não apenas o personagem, mas uma maneira de fazer humor.

Cantinflas estreou no cinema mexicano em meados da década de 1930, mas foi em “Ahí está el detalle”, de 1940, que ele realmente conquistou o público nacional.

O tipo do pobre urbano, vestido de forma simples, meio desajeitado, mas com esperteza, se tornou um símbolo.

Seus filmes eram uma mistura de humor físico, comédia de erros e, sobretudo, fala com trocadilhos, diálogos longos que se enrolavam e subvertiam a linguagem para rir e denunciar as desigualdades da sociedade mexicana.

Nos anos 40 e 50, sua fama cresceu enormemente no México e em toda a América Latina.

Cantinflas se tornou uma referência do humor popular, mas com traços de sofisticação. Muitas vezes, foi comparado ao próprio Chaplin, não só pelo visual ou tipo de humor, mas pela capacidade de emocionar, de criticar com leveza, de fazer rir enquanto retratava injustiças e absurdos do cotidiano.

Em 1956, surgiu a consagração internacional com “A Volta ao Mundo em 80 Dias” - “Around the World in 80 Days”. Nesse filme, Cantinflas interpretou Passepartout, em uma produção hollywoodiana de grande porte. Pela performance, ele recebeu o Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musical.

A produção venceu o Oscar de Melhor Filme e ficou demonstrado que o humor de Cantinflas transcendia barreiras culturais.

Mesmo com sucesso fora do México, Cantinflas permaneceu fiel à sua base. Produziu e atuou muito no cinema nacional, manteve contato com o povo, participou de causas sociais e foi símbolo de simplicidade. Seu compromisso com a cultura popular mexicana foi parte fundamental de sua identidade artística.

Nos últimos anos de vida, apesar de problemas de saúde, ele não deixou de atuar. Seu cinema continuou sendo exibido e o personagem permaneceu celebrado.

Cantinflas teve apenas um filho, Mario Arturo Moreno Ivanova, adotado ainda pequeno por ele e por sua esposa, Valentina Ivanova Zubareff.

Em 20 de abril de 1993, aos 83 anos, Mario Moreno morreu vítima de câncer de pulmão. Seu corpo foi velado no México, com grande comoção nacional e repercussão internacional.

O legado de Cantinflas é imenso para o universo cinematográfico da América Latina. O verbo “cantinflear” foi oficialmente incorporado ao vocabulário da Real Academia Espanhola da Língua, com a conotação de “falar muito e dizer pouco”, em alusão ao estilo verbal característico de seu personagem.

Seu trabalho inspirou e segue inspirando gerações de artistas do humor, cinema e cultura popular. Ele mostrou que é possível unir entretenimento e crítica social, que a comédia popular pode ter profundidade, e que a identidade de um país pode se expressar de forma autêntica nas telas.