Aos 82 anos, o navegador Aleixo Belov concluiu a desafiadora e então inédita Passagem Nordeste, rota que atravessa o Ártico Siberiano. A bordo do veleiro-escola Fraternidade, ele uniu o Atlântico ao Pacífico, cruzando o estreito de Bering. A jornada durou 142 dias e partiu de Salvador, onde mora.

Com a expedição encerrada em 1º de setembro de 2025, o Fraternidade se tornou o primeiro veleiro das Américas a completar essa rota, tida como uma das mais desafiadoras do planeta.

Belov, considerado o maior navegador brasileiro de todos os tempos — embora menos conhecido que Amyr Klink — celebrou o feito como o maior desafio de sua carreira.

Durante o percurso, a equipe enfrentou temperaturas negativas, ventos intensos e janelas curtas de degelo. O acesso à região é limitado a poucas semanas por ano. A travessia histórica exigiu preparo técnico e resistência física da tripulação internacional.

A expedição contou com o capitão russo Sergei Shcherbakov e mais dez tripulantes. Eles foram fundamentais para lidar com a logística e navegar por áreas militarmente controladas. Belov destacou que vencer o gelo e a burocracia foi parte da conquista.

O navegador, que já efetou mais de cinco voltas ao mundo, descreveu a experiência como o maior desafio de sua carreira. “Tivemos que vencer o gelo, as intempéries e também lidar com a burocracia da região. Mas conseguimos”, afirmou.

Essa rota, normalmente percorrida apenas por grandes navios quebra-gelo, é extremamente difícil devido ao gelo que cobre as águas do Ártico quase o ano inteiro.

A tripulação teve uma janela de apenas seis semanas por ano para realizar a travessia, que é quando o gelo se abre.

O brasileiro contou com a ajuda de uma pequena equipe russa, incluindo o experiente capitão Shcherbakov, para auxiliar na navegação e na burocracia, já que a região — considerada área militar — é de acesso restrito.

"É preciso ter licenças especiais para navegar por lá, uma região onde ninguém vai. Muito menos para passear, como é o meu caso", contou o navegador antes de iniciar a travessia histórica.

Há dois anos, Belov fez a travessia pela Passagem Noroeste, que liga Oceano Pacífico ao Atlântico (entre o Alasca e o norte do Canadá) com seu barco Fraternidade.

O veleiro de aço tem 20 metros de comprimento e foi construído por ele mesmo.

Apesar de ter nascido no território que hoje é a Ucrânia (na época pertencia à União Soviética), Belov não é fluente em russo. Aos 82 anos, aliás, ele precisou lidar com as limitações da idade para completar a travessia.

Belov chegou ao Brasil ainda criança e mora em Salvador há mais de 70 anos. A expedição partiu da capital baiana no dia 12 de abril.

Até outubro de 2025, não há confirmação oficial de que Aleixo Belov já tenha retornado ao Brasil após a travessia pela Passagem Nordeste. Após superar o gelo do Ártico, ele pretendia continuar a viagem e completar sua sexta volta ao mundo.

É comum em expedições desse porte que os navegadores compartilhem relatos com a imprensa ou com seus institutos logo após a conclusão de uma etapa importante, mesmo estando em território estrangeiro.

Aleixo Belov já deu cinco voltas ao mundo em um barco a vela, sendo três delas sozinho. No entanto, ao partir de Salvador, ele esteve acompanhado por nove pessoas: sete brasileiros e dois russos.

Belov, que já havia desvendado todos os mares do mundo, tinha o desejo de passar pela Sibéria para completar sua lista. O navegador, aliás, tem cinco filhos, três netos, um bisneto e dois casamentos desfeitos.

Aleixo Belov também é dono de um feito marcante: ele detém o título de velejador brasileiro com mais milhas navegadas até hoje!