O Bisfenol A - BPA -, substância química presente em plásticos de uso comum, tornou-se motivo de preocupação entre especialistas em saúde infantil nos últimos anos devido ao seu potencial de causar danos ao desenvolvimento das crianças.

Ele é utilizado na fabricação de recipientes plásticos, garrafas reutilizáveis, brinquedos e até no revestimento interno de latas.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa - proibiu em 2011 a fabricação e comercialização de mamadeiras que contenham Bisfenol A, alinhando-se a medidas já adotadas por União Europeia, Estados Unidos, Canadá, Japão e China.

O problema do BPA é que ele atua como um desregulador endócrino, ou seja, interfere no funcionamento natural dos hormônios.

Segundo os especialistas, por mimetizar substâncias como o estrogênio, ele pode alterar processos biológicos fundamentais ainda em fases muito precoces da vida.

Diversos estudos associam a exposição ao Bisfenol A a efeitos negativos no desenvolvimento cognitivo e comportamental, como maior risco de hiperatividade, ansiedade, déficit de atenção e alterações de humor.

Há também evidências de impacto sobre a puberdade, com ocorrência precoce em meninas, além de possíveis alterações na fertilidade futura.

Outras pesquisas indicam ligação entre o contato com a substância e doenças metabólicas, como resistência à insulina e diabetes tipo 2, segundo estudo de 2024 da Associação Americana de Diabetes.

Em 2012, o Journal of The American Medical Association publicou pesquisa da Universidade de Nova York apontando que a substância aumenta os riscos de obesidade em crianças e adolescentes.

Em experimentos recentes, cientistas verificaram que a exposição de grávidas ao BPA também pode modificar áreas específicas do cérebro do bebê, como o corpo caloso, responsável pela comunicação entre os hemisférios cerebrais, o que reforça a preocupação com efeitos de longo prazo.

O risco aumenta quando plásticos contendo BPA são aquecidos, situação comum ao esquentar mamadeiras, potes ou marmitas no micro-ondas, já que o calor acelera a liberação da substância para o alimento.

Isso explica porque o consumo infantil é tão vulnerável: além de utilizar com frequência recipientes plásticos, o organismo das crianças ainda está em formação e apresenta maior sensibilidade aos efeitos hormonais.

Para reduzir a exposição, a recomendação é evitar utensílios que tragam o código de reciclagem 3 - policarbonato - ou 7 - PVC -, que geralmente indicam a presença de policarbonato com BPA, além de optar por materiais alternativos, como vidro, cerâmica ou aço inox. Os códigos de reciclagem 1, 2, 4, 5 ou 6 indicam a segurança nesse aspecto.

Diante do acúmulo de evidências, diversos países decidiram restringir o uso dessa substância em produtos infantis.

Apesar disso, a substância ainda pode ser encontrada em outros objetos de uso cotidiano, o que exige atenção redobrada por parte das famílias.

Para os especialistas, a substituição gradual do BPA por compostos mais seguros e a adoção de hábitos de consumo conscientes são passos fundamentais para diminuir os riscos.

Embora o BPA continue presente em diversos plásticos, a consciência sobre seus efeitos nocivos vem crescendo.

Ao escolher recipientes adequados, evitar o aquecimento de alimentos em embalagens plásticas e dar preferência a produtos certificados como “BPA free”, pais e responsáveis podem reduzir de forma significativa a exposição das crianças a essa substância.

A ciência ainda investiga os efeitos cumulativos da exposição ao longo da vida, mas a orientação atual é clara: na dúvida, a precaução é a melhor forma de proteger a saúde infantil.