Pouca gente sabe, mas o Brasil é lar da maior cratera de impacto de meteoro já identificada na América do Sul.

Trata-se do Domo de Araguainha, localizado na divisa entre os estados de Mato Grosso e Goiás.

A cratera tem 40 km de diâmetro e uma área de aproximadamente 1,3 mil km² – maior que a cidade do Rio de Janeiro.

O Domo abrange os municípios de Araguainha (MT) e Ponte Branca (MT), estendendo-se até Alto Araguaia (MT) e Mineiros (GO).

Essa é uma região predominantemente rural, com economia baseada na agropecuária, especialmente na criação de gado e no cultivo de soja, milho e outras culturas de grãos.

A formação ocorreu há cerca de 254 milhões de anos, no início da era Mesozóica, quando um asteroide com cerca de 4 km de diâmetro colidiu com a Terra a uma velocidade estimada entre 14 e 16 km por segundo.

O impacto se deu em uma região que, na época, era ocupada por um mar raso, provocando terremotos, tsunamis e a destruição da vida em um raio de até 500 km.

Hoje, o local é reconhecido como um dos 100 principais sítios geológicos do mundo pela International Union of Geological Sciences (IUGS), ligada à Unesco.

Atualmente, o local é visitado por estudantes, cientistas e curiosos, e há iniciativas para transformar a região em um parque geológico oficial, visando à preservação e à promoção de seu valor científico e educativo.

Os primeiros indícios de que a estrutura havia sido formada por um impacto surgiram em 1973, com uma publicação dos pesquisadores da NASA Robert Dietz e Bevan French.

No entanto, a comprovação científica só ocorreu alguns anos depois, com o trabalho do geólogo Álvaro Crósta, da Unicamp, que estuda o Domo desde 1978.

Pesquisas no local identificaram sinais claros de metamorfismo de choque — um fenômeno que transforma minerais sob extrema pressão e temperatura, exclusivo de impactos meteoríticos.

Foram encontrados minerais deformados, como o zircão, o que confirmou a origem da cratera.

No centro do domo, há uma elevação de rochas mais antigas, vindas do embasamento cristalino, que foram empurradas para cima pela força do impacto.

O impacto causou uma destruição significativa na região, afetando espécies de répteis e anfíbios da época.

Estudiosos ainda investigam as conexões entre o impacto e a liberação de grandes volumes de petróleo e gás natural armazenados em camadas sedimentares da Bacia do Paraná, o que poderia ter agravado o aquecimento global da época.

Apesar disso, o meteoro não teve magnitude suficiente para causar uma extinção em massa global, como o evento que levou ao fim dos dinossauros milhões de anos depois.

Das 11 crateras desse tipo existentes na América do Sul — dessas, oito ficam no Brasil —, o Domo de Araguainha faz parte das cinco maiores.

Hoje, a cratera está parcialmente erodida e coberta por vegetação do Cerrado, mas suas formas ainda são identificáveis em imagens de satélite.