No interior do Rio Grande do Sul, a mais de 400 quilômetros da capital Porto Alegre, há uma cidade que atrai olhares curiosos por um motivo incomum: ela é conhecida como a capital mundial da pedra ametista.

Ametista do Sul, como o próprio nome indica, construiu sua identidade a partir do brilho violeta que brota de seu subsolo. Não se trata apenas de um título simbólico.

Afinal, a região concentra uma das maiores reservas naturais da pedra no planeta, além de manter uma economia que gira em torno da mineração, da lapidação e do turismo relacionado à joia. Dessa forma, que tal conhecermos mais sobre esta curiosa cidade?

A relação entre a cidade e a pedra começou no início do século passado, quando agricultores locais, ao preparar o solo para o cultivo, encontraram pedras de coloração intensa e beleza singular.

O que parecia apenas uma curiosidade rural logo se transformou em um fenômeno geológico e econômico. Ao longo das décadas, milhares de minas foram abertas e, em seu auge, mais de três mil delas funcionavam simultaneamente.

Com o tempo, muitas minas se esgotaram, mas não foram abandonadas. Foram reaproveitadas como pontos de visitação, restaurantes temáticos e espaços culturais, criando uma rede turística subterrânea que ajuda a contar a história da cidade.

O símbolo máximo de Ametista do Sul é a Igreja Matriz São Gabriel. Com estrutura imponente, ela impressiona por ter cerca de 40 toneladas de pedras ametistas em suas paredes.

Durante o dia, a luz natural atravessa os vitrais e se mistura ao brilho das pedras, criando um ambiente místico e sereno. A torre da igreja permite uma visão privilegiada da cidade.

Outro ponto que chama atenção é a Pirâmide Esotérica, construída sobre uma antiga mina. O espaço, cercado por vegetação e silêncio, é voltado para práticas de meditação e atividades espirituais.

Muitos visitantes relatam sensações únicas ao permanecer ali, como se o ambiente carregasse uma energia concentrada. Essa fama está ligada à crença nos poderes da ametista, tradicionalmente associada à proteção, ao equilíbrio emocional e à transformação interior.

A presença das pedras vai além da fé ou da decoração. A cidade incorporou sua identidade mineral em todos os aspectos. Prédios, praças, postes e até os bancos das ruas exibem detalhes roxos ou estruturas com pedras aparentes.

Lojas vendem desde brincos e anéis até esculturas gigantes esculpidas em blocos inteiros de ametista. Algumas pousadas e hotéis possuem suítes com paredes revestidas pelas pedras.

Entre as experiências mais inusitadas está a gastronomia subterrânea. Restaurantes foram montados dentro de antigas galerias de mineração, aproveitando o ambiente fresco e úmido das cavernas.

Um dos mais famosos é o Restaurante Belvedere, onde se pode saborear pratos da culinária gaúcha em mesas iluminadas por cristais.

Outro destaque é o restaurante que funciona no Geoparque Subterrâneo, iniciativa que une lazer, ciência e consciência ambiental. Além da refeição, é possível conhecer mais sobre a formação geológica da região e os impactos da atividade mineradora ao longo do tempo.

O Geoparque, aliás, é um passo importante para o reconhecimento internacional da região. O objetivo é integrar Ametista do Sul a uma rede de locais que valorizam sua geodiversidade como patrimônio científico e cultural.

O Ametista Parque Museu é um exemplo desse esforço. No local, visitantes podem ver de perto dezenas de pedras preciosas, além da maior ametista bruta já encontrada na região, com impressionantes 2,5 toneladas.

A cidade também surpreende com sua produção de vinhos. Algumas vinícolas funcionam em minas desativadas, onde a temperatura natural e constante garante a conservação ideal das bebidas. As degustações acontecem entre paredes de rocha e mesas esculpidas em cristais.

Mesmo com sua população modesta, Ametista do Sul mantém uma agenda cultural movimentada. O Festival da Ametista é o principal evento do calendário local e reúne música, gastronomia, exposições e apresentações artísticas.

Ao longo do ano, a cidade recebe ainda feiras temáticas, encontros esotéricos e eventos religiosos, mostrando a diversidade de interesses que esse destino é capaz de acolher.

Mais do que um lugar curioso no mapa, Ametista do Sul representa uma convivência harmoniosa entre riqueza natural, história, turismo e espiritualidade.

Em tempos em que muitos buscam fugir da pressa e se reconectar com ambientes mais significativos, a cidade mostra que o interior pode guardar não só tranquilidade, mas também brilho, profundidade e beleza.