Dominic Robinson, um mergulhador britânico de 53 anos, realizou um sonho incomum: tornou-se dono de um navio naufragado da Primeira Guerra Mundial por apenas 300 libras (cerca de R$ 2.300).
A curiosidade inusitada é que o navio (um cargueiro britânico SS Almond Branch) permanece afundado no fundo do Canal da Mancha, entre a França e a Inglaterra.
A embarcação foi torpedada por um submarino alemão em 1917 e até hoje permanece em estado avançado de deterioração, a 50 metros de profundidade.
Apesar de estar consciente de que o navio era apenas uma pilha de ferro enferrujado sem valor comercial ou histórico, Robinson comprou os direitos legais sobre ele por puro desejo pessoal.
"Porque eu sempre quis ser dono de um navio afundado. Ter o meu próprio naufrágio, entende?", disse o britânico.
Apesar de ser o "proprietário", ele não pode impedir outros mergulhadores de visitar os destroços — sua única vantagem legal é poder reivindicar objetos retirados sem sua permissão.
A aquisição foi possível graças a uma antiga lei britânica, criada após a Segunda Guerra Mundial, que permite ao governo vender embarcações naufragadas em águas inglesas, desde que elas não tenham mais dono.
O SS Almond Branch, inclusive, já havia sido comprado por uma família inglesa nos anos 1970, na esperança de encontrar tesouros escondidos — expectativa que logo se revelou frustrada.
Décadas depois, os restos do navio foram anunciados no Facebook Marketplace, o que chamou a atenção de Robinson.
Atualmente, o navio está em péssimo estado e sem qualquer item de valor em seu interior — o próprio Robinson tratou de confirmar isso em um mergulho recente.
O inglês afirma que seu único desejo atual é encontrar o sino original da embarcação. "Meu sonho é encontrar o sino do navio e levá-lo para casa", disse ele.
Especialistas, como o técnico em patrimônio subaquático Michael Williams, criticam a compra, apontando que ela traz mais obrigações do que vantagens. "Não vejo nenhuma vantagem em ter um naufrágio", ponderou.
"Quem compra um navio afundado fica automaticamente responsável por tudo o que aquele naufrágio possa causar, como vazamentos de poluentes e danos ao meio ambiente", analisou.
Um outro caso parecido aconteceu nos anos 1980, quando o milionário norte-americano Gregg Bemis adquiriu os direitos sobre os destroços do Lusitania, o segundo naufrágio mais famoso da história, atrás apenas do Titanic.
O navio tinha sido afundado por um submarino alemão durante a Primeira Guerra Mundial, na costa da Irlanda, causando a morte de 1.195 pessoas — a maioria americanos.
Na época, Bemis não estava interessado em lucro. Seu objetivo era resolver um mistério histórico: a causa de uma segunda explosão ocorrida logo após o impacto do torpedo.
Bemis e alguns historiadores acreditavam que essa explosão adicional poderia ter sido provocada por um carregamento secreto de munições enviado pelos EUA à Inglaterra, disfarçado a bordo de um navio de passageiros.
Há ainda teorias de Winston Churchill, então chefe do Almirantado Britânico, teria "sacrificado" o navio de propósito para forçar os EUA a entrarem na guerra.