Pesquisadores fizeram uma descoberta sobre as aranhas sociais africanas (Stegodyphus dumicola) que desafia os conceitos tradicionais da ecologia comportamental.
Diferentemente da maioria das aranhas, que são solitárias e até canibais, a Stegodyphus dumicola vive em colônias compostas por dezenas até centenas de indivíduos.
Segundo os estudos, o comportamento das aranhas sociais africanas varia drasticamente ao longo do tempo, influenciado por fatores como fome e ambiente.
O estudo, publicado na revista Animal Behaviour, acompanhou 28 colônias por quatro meses (cerca de um terço da vida das aranhas) e analisou três comportamentos: reação a ameaças, fuga e caça coletiva.
Os cientistas marcaram as aranhas individualmente com tinta para monitorar seus comportamentos, mas descobriram que qualquer padrão consistente durava pouco tempo.
Os resultados mostraram que, embora algumas aranhas apresentassem padrões temporários, suas ações mudavam radicalmente, sem relação com comportamentos anteriores.
Fatores como fome e mudanças ambientais parecem ser os principais influenciadores das atitudes individuais, tornando impossível prever ações com base em observações anteriores.
A ausência de personalidade fixa entre os indivíduos parece facilitar a vida cooperativa e igualitária nas colônias.
Todos colaboram na criação dos filhotes e na caça, e chegam a se sacrificar por crias que não são suas, o que reforça a ideia de um sistema social baseado na necessidade e na flexibilidade, e não em papéis sociais definidos ou hierarquias.
Segundo a pesquisadora Lena Grinsted, líder do estudo, as descobertas questionam a ideia de que personalidades individuais são essenciais para a evolução de espécies sociais.
Na prática, essas aranhas demonstram uma forma de organização mais estável do que a dos próprios humanos hippies que inspiraram a comparação.
As aranhas sociais africanas são nativas das regiões áridas e semiáridas do sul da África, como a Namíbia e a África do Sul.
Essas aranhas constroem teias comunais complexas em arbustos ou árvores, formando estruturas que podem abrigar centenas de indivíduos.
Cada colônia pode durar anos, com múltiplas gerações convivendo simultaneamente.
As colônias são compostas principalmente por fêmeas, que trabalham juntas para construir e reparar a teia, capturar presas e cuidar da prole.
As aranhas caçam juntas, capturando presas que seriam muito grandes para uma aranha solitária.
Quando uma presa é capturada pela teia, várias aranhas a envolvem rapidamente e injetam enzimas digestivas.
As fêmeas produzem sacos de ovos e protegem seus filhotes até que eles estejam prontos para eclodir. Depois que os filhotes nascem, a mãe se sacrifica, permitindo que eles a devorem num processo chamado matrifagia.
Esse comportamento garante que os jovens tenham nutrientes suficientes para se desenvolverem antes de se integrarem à colônia.
O estudo dessa aranha tem sido importante para a biologia evolutiva e o entendimento da socialidade em animais invertebrados.