O discurso da bispa Mariann Edgar Budde em culto especial como parte das celebrações de posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos dominou o noticiário mundo afora.
A líder religiosa da Igreja Protestante Episcopal defendeu em seu sermão pessoas LGBTQ+ e imigrantes, alvos de decretos baixados por Donald Trump nas primeiras horas de seu novo mandato.
Em seu discurso na Catedral Nacional de Washington, Mariann dirigiu-se a Trump e declarou que fazia um apelo em nome de Deus para que o presidente americano tenha misericórdia do povo que vive nos Estados Unidos.
"Estamos com medo agora. Eu lhe peço que tenha misericórdia, senhor presidente. Há crianças gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e independentes'', ressaltou.
Ela saiu em defesa dos trabalhadores estrangeiros ameaçados de deportação pelo governante, que está de volta ao cargo após quatro anos.
“Eles podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos imigrantes não são criminosos. Eles pagam impostos e são bons vizinhos. São membros fiéis de nossas igrejas, mesquitas, sinagogas, wadaras e templos”, reforçou.
“Peço-lhe, Sr. Presidente, que tenha misericórdia daquelas pessoas em nossas comunidades cujos filhos temem que seus pais sejam levados e que ajude aqueles que estão fugindo de zonas de guerra e perseguições em suas terras a encontrar a compaixão e acolhimento aqui”, completou a bispa.
Nas redes sociais, Trump esbravejou contra o discurso da líder religiosa, criticando suas palavras e declarando que ela deveria pedir desculpas.
"Além de seus comentários inadequados, o sermão foi muito chato e pouco inspirador. Ela não é muito boa em seu trabalho! Ela e sua igreja devem um pedido de desculpas ao público!", declarou o presidente americano na sua rede social, a Truth Social.
Além disso, Trump chamou Mariann Edgar Budde de “esquerdista radical”. “Seu tom foi desagradável, pouco convincente e pouco inteligente”, completou.
Em entrevista à CNN, a bispa explicou que quis contrariar Trump com “uma lembrança da humanidade” de imigrantes e da comunidade LGBTQI+. Ou seja, quis reforçar o aspecto humano de todos.
“Queria dizer que há espaço para a misericórdia. Há espaço para uma maior compaixão. Não precisamos retratar com termos severos algumas das pessoas mais vulneráveis da nossa sociedade, que são nossos vizinhos, amigos, filhos, os amigos de nossos filhos, e outros”, afirmou a líder religiosa.
A cerimônia inter-religiosa que ela liderou no dia 21/01 é uma tradição na semana de posse de um presidente dos Estados Unidos.
Bispa episcopal de Washington, Mariann foi a primeira mulher a ser eleita para o posto da diocese da capital americana, em 2011.
Aos 65 anos, ela também preside a Fundação Catedral Protestante Episcopal, atuando como líder espiritual de congregações e escolas no Distrito de Columbia e em condados de Maryland.
Casada, a reverenda tem dois filhos e serviu em Minneapolis, cidade do estado do Minnesota, antes de ser transferida para Washington.
Segundo sua biografia, ela gosta de cozinhar, passear de bicicleta e é autora de três livros: “Como aprendemos a ser corajosos: momentos decisivos na vida e na fé” (2023), “Recebendo Jesus: o caminho do amor” (2019) e “Reunindo os fragmentos: a pregação como prática espiritual” (2007).
"Ela acredita que Jesus convida todos os que o seguem a lutar por justiça e paz, e a respeitar a dignidade de cada ser humano. Para esse fim, a bispa Budde é uma defensora e organizadora em apoio a preocupações com justiça, incluindo equidade racial, prevenção da violência armada, reforma da imigração, inclusão total de pessoas LGBTQ+ e o cuidado da criação", afirma a biografia da bispa no site da igreja.
De acordo com a rádio americana NPR, Mariann é uma crítica de Trump de longa data. Em 2020, a bispa escreveu um artigo no “The New York Times” pelo uso da força policial para expulsar as pessoas que protestavam nas proximidades da igreja de St. John’s pela morte de George Floyd, homem negro assassinado por policiais em Minneapolis.
"O Deus a quem sirvo está do lado da justiça. Jesus chama seus seguidores para imitar seu exemplo de amor sacrificial e construir o que ele chamou de Reino de Deus na Terra", afirmou a reverenda no artigo.