Uma reportagem trazida pela BBC contou a história de uma mulher que viveu em um abrigo para moradores de rua com suas três filhas e anos depois se tornou uma cientista renomada. Confira!

Ijeoma Uchegbu nasceu em Londres, filha de estudantes nigerianos que se mudaram para o Reino Unido nos anos 1960 em busca de estudo.

Ainda bebê, foi deixada temporariamente com uma família inglesa enquanto os pais estudavam — algo comum entre estudantes africanos na época.

Viveu com essa família até os quatro anos, acreditando que aquela era sua mãe de fato, até ser levada de volta pelo pai.

Sua infância foi marcada por momentos difíceis: só descobriu que a mulher com quem morava era sua madrasta aos 10 anos, e conheceu a mãe biológica apenas aos 13.

Um ano depois, sua mãe biológica morreu. Logo em seguida, ela também perdeu a mãe adotiva, tendo apenas o pai como sua principal referência.

Durante os anos 1960 e 1970, Ijeoma cresceu no Reino Unido em um contexto de racismo e de falta de representatividade.

Tudo mudou quando a família voltou para a Nigéria em 1990, desejo antigo do pai.

A adaptação foi difícil: ela sofreu alergia ao sol intenso, teve dificuldade para fazer amigos e enfrentou choque cultural e desigualdade de infraestrutura.

"Queria ser cientista, e com a infraestrutura da Nigéria isso era difícil", contou ela.

Na Nigéria, sentiu a necessidade de se concentrar em ciências e matemática, as únicas matérias inalteradas em relação ao currículo britânico.

Aos 16 anos, ingressou na universidade para estudar Farmácia na Universidade de Benin.

Mais tarde, casou-se, teve três filhas e completou um mestrado. Porém, enfrentou um casamento infeliz e viu suas possibilidades profissionais limitadas pelas condições locais.

Movida pelo desejo de ser cientista, decidiu retornar ao Reino Unido com poucas posses e as três crianças pequenas.

Sem dinheiro e sem rede de apoio, passou meses com as filhas em um abrigo para pessoas em situação de rua em Londres.

No abrigo, Ijeoma viveu em condições precárias e enfrentou maus tratos: "Quem administrava o lugar nos tratava com total desprezo. Fiquei lá por sete meses e, quando saí, foi como sair da prisão", relatou.

Ainda assim, continuou tentando ingressar em um doutorado. Acabou escolhendo um projeto que pesquisava partículas minúsculas — antes mesmo de o termo “nanotecnologia” existir.

No doutorado, estudou nanopartículas capazes de transportar medicamentos de forma mais eficiente.

Durante as pesquisas, conheceu o cientista alemão Andreas Schätzlein, com quem desenvolveu uma forte conexão pessoal e profissional.

Ele se mudou para o Reino Unido, tornou-se parceiro de pesquisa e marido de Ijeoma.

Juntos, eles desenvolveram nanopartículas que levam medicamentos diretamente ao local afetado no organismo, reduzindo efeitos colaterais e aumentando a eficácia.

O estudo se mostrou promissor para tratamentos de dor intensa, quimioterapia e até aplicação de medicamentos em partes de difícil acesso, como o cérebro ou a parte posterior dos olhos.

Hoje, além da carreira científica, Ijeoma dedica-se à divulgação da ciência e ao combate à desigualdade racial no meio acadêmico.

Ela se tornou professora de Nanociência Farmacêutica no University College London (UCL) e presidente do Wolfson College, da Universidade de Cambridge.

Ela também atua em iniciativas para ampliar a representatividade de minorias na ciência, influenciando mudanças institucionais.

Em 2025, ela recebeu das mãos do rei Charles III o título de Dama Comandante da Mais Excelente Ordem do Império Britânico por promover a ciência, a inclusão e a diversidade.