
Uma polêmica envolvendo a restauração de uma tela da Santa Ceia em uma cidade de Minas Gerais causou confusão entre um padre e um radialista.
O locutor Jésus de Carvalho Chaves, de 83 anos, afirmou ter sido agredido pelo padre Edson Augusto Teixeira durante uma transmissão ao vivo em uma rádio de Bambuí.
Tudo começou quando o comunicador detonou a restauração de uma obra de arte da Santa Ceia realizada na Paróquia Sant’Ana.
Jésus de Carvalho, que é filho do artista original (Jésus Chaves Martins), alegou que a restauração, feita sem consulta ao autor, "lambuzou" a obra e a descaracterizou ao colorir por cima.
A crítica foi transmitida ao vivo, durante o programa “Domingão do Jesão”, da Rádio Canastra FM, no dia 19 de outubro.
Enquanto Jésus desdenhava da restauração, o padre Edson Augusto invadiu o estúdio da rádio e agrediu fisicamente o locutor.
Segundo o Boletim de Ocorrência da PM, o padre empurrou o radialista, que caiu e machucou o braço esquerdo e a cabeça, sofrendo ferimentos leves.
O artista Jesus Chaves Martins, autor da obra original de 1974, afirmou não ter sido consultado sobre a restauração, realizada em 2022.
Ele alega que o novo trabalho, colorido, "deturpou" sua obra, ferindo seus direitos autorais.
Em nota, a Diocese de Luz defendeu sua autonomia para gerir e cuidar de seus bens e espaços de culto, conforme o Código de Direito Canônico.
A instituição justificou ainda as "melhorias e adequações" como parte da "legítima responsabilidade eclesial de zelar pela beleza e funcionalidade do culto divino".
A Santa Ceia — ou Última Ceia — é um dos momentos mais importantes do Cristianismo, pois marca a última refeição de Jesus com seus discípulos antes de sua prisão.
Na tradição cristã, ela simboliza a entrega de Cristo pela humanidade e institui o sacramento da Eucaristia (ou Comunhão), em que o pão representa o corpo de Jesus e o vinho, seu sangue.
Esse gesto se tornou um rito central nas igrejas, sendo repetido como sinal de fé, unidade e memória da vida, morte e ressurreição de Cristo.
Ao longo da história, a Santa Ceia foi retratada de diversas maneiras. Na arte cristã primitiva, sua representação era simbólica, com imagens de peixes e pães encontrados em catacumbas.
Durante a Idade Média, a cena ganhou espaço em manuscritos iluminados e vitrais.
No Renascimento, artistas exploraram mais a emoção e a perspectiva do evento. O exemplo mais icônico é a obra de Leonardo da Vinci.
O artista inovou ao dispor todos os apóstolos no mesmo lado da mesa e ao capturar o instante exato do anúncio da traição, usando a arquitetura e a simetria para centralizar a figura serena de Cristo.
Nos séculos seguintes, a cena foi reinterpretada em estilos variados — barroco, neoclássico, moderno e até pop — refletindo contextos culturais e sociais de cada época.