Há 62 anos, no dia 10 de outubro de 1963, morria Édith Piaf, a cantora que se tornou uma das artistas francesas mais famosas e influentes do mundo.

Édith Giovanna Gassion nasceu em 19 de dezembro de 1915, em Belleville, um distrito operário de Paris.

A sua infância foi marcada por privações e abandono. Ela foi deixada aos cuidados da avó paterna, que administrava um bordel na Normandia.

Aos sete anos, ela contraiu ceratite, uma inflamação da córnea, e ficou temporariamente cega - teria recuperado a visão após uma peregrinação religiosa, fato que ela mesma considerava um milagre.

A adolescência de Piaf foi vivida nas ruas. Aos 15 anos, a jovem de apenas 1,47m cantava em calçadas, bares e esquinas, e já chamava atenção por uma voz de timbre incomum e por sua intensidade emocional.

No ano seguinte, ela se envolveu com um entregador e acabou engravidando, dando à luz Marcelle Dupont. Porém, a filha acabaria morrendo com apenas dois anos, vítima de uma meningite.

Em 1935, ela foi descoberta por Louis Leplée, dono do cabaré Le Gerny’s, no bairro parisiense de Pigalle. Ele a apelidou de La Môme Piaf - expressão popular francesa que significa “pequeno pardal” - e a apresentou à elite parisiense. A estreia foi um sucesso imediato.

Mas o destino traria um novo golpe. Pouco tempo depois, Leplée foi assassinado, e Piaf chegou a ser acusada de envolvimento no crime. Absolvida, viu sua imagem abalada no período.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Édith Piaf tornou-se um fenômeno nacional, exaltada até mesmo pelo famoso cantor Maurice Chevalier. Nos anos 1940, começou a gravar canções que se tornariam eternas em sua voz, como “Mon Légionnaire”, “L’Accordéoniste” e, sobretudo, “La Vie en Rose”, de 1947, composição sua que viraria hino de amor e esperança no pós-guerra.

O pós-guerra consolidou Piaf como uma estrela internacional. Ela excursionou pela Europa, América do Sul e Estados Unidos, onde se apresentou em casas renomadas como o Carnegie Hall e o Ed Sullivan Show.

Sua vida amorosa foi tão intensa quanto suas músicas. Ela se relacionou com vários homens, mas seu grande amor foi o boxeador Marcel Cerdan, campeão mundial e casado, com quem viveu um romance arrebatador.

Em 1949, Cerdan morreu em um acidente de avião a caminho de Nova York, onde iria encontrá-la. Devastada, Piaf escreveu a letra de “Hymne à l’amour”, em música de Marguerite Monnot, em homenagem a ele, uma das interpretações mais emocionantes da história da música.

A partir desse episódio, ela mergulhou em uma espiral de sofrimento físico e dependência de morfina e álcool. Apesar disso, continuou trabalhando intensamente. Ela gravou dezenas de discos, protagonizou filmes e registrou mais de 300 canções.

Entre suas mais célebres gravações estão “Milord”, “Padam... Padam...”, “Les Amants d’un jour” e “Non, je ne regrette rien”, esta última uma verdadeira declaração de filosofia de vida, lançada quando ela já enfrentava sérios problemas de saúde.

Na virada da década de 1960, Piaf passou por uma série de internações, cirurgias e crises de abstinência. Sofria de artrite reumatoide e de complicações hepáticas causadas pelo uso prolongado de medicamentos.

Mesmo debilitada, insistia em cantar. Em seus últimos shows, precisava ser amparada no palco. Em 1962, casou-se com Théo Sarapo, cantor e ator 20 anos mais jovem, que a acompanhou até o fim.

Édith Piaf morreu em 10 de outubro de 1963, aos 47 anos, em Plascassier, no sul da França. O funeral, em Paris, reuniu mais de 40 mil pessoas e paralisou o trânsito da cidade. Milhares de fãs acompanharam o cortejo até o cemitério Père-Lachaise, onde Piaf foi sepultada ao som de suas próprias canções.

Édith Piaf inspirou uma constelação de cantoras. Artistas internacionais como Céline Dion, que cantou “Hymne à l’amour” na abertura dos Jogos Olímpicos de Paris em 2024, e Lady Gaga, que é obcecada pela artista e já gastou uma fortuna em itens que pertenceram a ela, são dois exemplos.

Madonna tem em Piaf uma influência decisiva. Em 2019, durante apresentação no mítico teatro Olympia, de Paris, a Rainha do Pop declarou: “Persigo os passos dela, de joelhos”, declarou Madonna

A cinebiografia “Piaf – Um Hino ao Amor”, dirigida por Olivier Dahan, em 2007, é uma das mais célebres homenagem à artista no século 21. O filme reconstrói sua trajetória desde a infância nas ruas até o estrelato mundial, destacando suas paixões e tragédias.

A interpretação de Marion Cotillard foi tão intensa que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz. Ela foi a primeira a vencer na categoria por um papel em língua francesa.

Assim, passadas mais de seis décadas após sua morte, Piaf permanece como um mito inabalável da canção francesa.