Nas últimas décadas, várias praias do litoral brasileiro têm sofrido com os danos causados pela erosão costeira. Em alguns casos, a ameaça é até mesmo de desaparecimento. Um problema que vem se agravando a olhos vistos.

No dia 10 de janeiro de 2024, o município de Icapuí, no Ceará, foi cenário de uma violenta ressaca do mar na Praia da Peroba que causou imensa destruição.

A TV Verdes Mares, afiliada da Globo no Ceará, registrou o estrago causado em passarelas, cercas de contenção e dunas.

A força da água arrastou sacos de areia e deixou estruturas ainda mais vulneráveis a novos episódios de avanço da maré.

A prefeitura de Icapuí afirmou já ter alocado mais de R$ 25 milhões em obras para conter as forças do mar revolto, como a construção de paredões de pedra.

No dia 18 de janeiro, o poder municipal anunciou a construção de um espigão para frear o avanço do mar na Praia da Peroba.

Olinda, em Pernambuco, é outra cidade que já recorreu à construção de espigões e quebra-mares para tentar controlar o avanço das águas. Mas estudos têm apontado efeito reverso, com piora da erosão nessas áreas.

O Jornal O Povo, de Fortaleza, mostrou que Icapuí é apenas uma das cidades cearenses que enfrentam o problema da erosão costeira.

Daniel Rodrigues, professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará, afirmou que o município de Caucaia tem registro do problema, assim como as praias de Jericoacoara e de Morro Branco, que são destinos turísticos importantes.

Áreas mais sujeitas à erosão costeira, com desequilíbrio na entrada e saída de sedimentos, podem ter o processo acelerado pela ocupação do solo próximo ao mar.

Levantamento do Instituto MapBiomas apontou que a área de praias, dunas e areais do Brasil recuou 15% entre 1985 e 2021.

Pedro Walfir, professor da Universidade Federal da Bahia e membro da equipe de zona costeira do MapBioomas, declarou à Revista Veja que o avanço da infraestrutura urbana tem agravado o problema.

“Estão construindo estradas e condomínios sobre dunas”, comentou o estudioso.

O avanço da ocupação associado à elevação do nível do mar em decorrência do aquecimento global tem agravado o cenário.

A praia de Atafona, em São João da Barra, no Rio de Janeiro, registra um dos casos mais alarmantes da destruição causada pela erosão.

O avanço do mar no balneário já chegou a mais de dez quarteirões e destruiu centenas de imóveis.

“É um fenômeno natural, mas que foi agravado pelo homem, sobretudo, a partir da década de 80", declarou o geólogo Eduardo Bulhões durante audiência na Câmara Municipal de São João da Barra.

Em outubro de 2023, a prefeitura de Ilhéus, no sul da Bahia, decretou situação de emergência em áreas impactadas pela erosão costeira.

Cenário de romances de Jorge Amado, além de filmes e novelas, a cidade baiana registra há décadas redução da faixa de areia e severas destruições provocadas pelo avanço do mar.

O temor com os impactos da erosão fez a prefeitura de São Vicente, no litoral sul de São Paulo, isolar um trecho da orla em março de 2023 para estudos de pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil.

Além de ameaçar belas paisagens brasileiras, a erosão coloca em risco atividades econômicas vinculadas ao turismo nessas praias.