Um estudo desenvolvido na Universidade Estadual Paulista (Unesp) alertou para o risco de asteroides "escondidos" ao redor de Vênus ameaçarem a Terra no futuro.

A pesquisa, liderada pelo professor Valerio Carruba e publicada no repositório científico arXiv, indicou um conjunto oculto desses asteroides, dificilmente detectável devido ao brilho do Sol.

Suas órbitas são altamente instáveis, com trajetórias que se tornam imprevisíveis em cerca de 150 anos.

Asteroides com mais de 140m de diâmetro que se aproximam a menos de 0,05 unidades astronômicas (7,5 milhões de km) da Terra são classificados como potencialmente perigosos.

Impactos de objetos desse porte liberariam energia equivalente a centenas de megatons de TNT (milhares de vezes maior que bombas atômicas históricas).

O estudo simulou o comportamento orbital de 26 asteroides por 36 mil anos e identificou que alguns podem, com o tempo, se aproximar da Terra, principalmente os que têm órbitas mais regulares e inclinadas.

Embora o Observatório Vera Rubin (previsto para entrar em operação ainda em 2025) possa detectar parte desses objetos, os pesquisadores defendem que missões espaciais em órbita de Vênus seriam mais eficazes na observação.

O estudo enfatiza que, apesar de não haver risco imediato, o desconhecimento sobre a quantidade e trajetória desses corpos representa um desafio para a segurança da Terra.

Recentemente, a sonda soviética Cosmos 482, lançada em 1972 com destino a Vênus, reentrou na atmosfera e caiu no Oceano Índico.

Projetada para resistir às condições extremas do planeta vizinho, a sonda permaneceu presa na órbita terrestre por mais de 50 anos devido a uma falha que a impediu de sair da gravidade da Terra.

Por décadas, o objeto foi monitorado por especialistas e astrônomos, pois, ao contrário de outros detritos espaciais que se desintegram ao reentrar na atmosfera, a Cosmos 482 poderia sobreviver à queda por ser altamente resistente.

Apesar disso, o risco para pessoas era considerado baixo, e a queda ocorreu sobre o mar.

A cápsula faz parte do histórico programa soviético Venera, que explorou Vênus nas décadas de 1970 e 1980.

Apenas uma das duas sondas lançadas em 1972 chegou ao planeta com sucesso.

A Cosmos 482, que falhou, foi catalogada como lixo espacial sob o nome "Cosmos" para fins de rastreamento.

Atualmente, mais de 30 mil objetos orbitam a Terra, muitos remanescentes de missões antigas.

O reaparecimento da Cosmos 482 serviu de alerta em meio à nova corrida espacial, marcada pelo lançamento massivo de satélites por empresas privadas.

Especialistas destacam a necessidade urgente de melhores práticas para amenizar o acúmulo de detritos orbitais.

"Tudo o que sobe tem que descer. O que você coloca no espaço hoje pode nos afetar nas próximas décadas", observou Parker Wishik, porta-voz da The Aerospace Corporation.