Fernanda Montenegro, que completou 96 anos no dia 16 de outubro de 2025, tem uma preocupação antiga com o dinheiro e ainda teme a falência.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, a filha dela, Fernanda Torres, contou que cresceu ouvindo os pais repetirem que a família vivia “à beira da ruína” e que estava pronta para viver “em um lugar pequeno”.

É Fernanda Torres que tenta tranquilizar a mãe: “Mamãe, você trabalhou muito, relaxa.”

“Até hoje, mamãe fala: ‘Tem que ter três meses garantidos para frente’. Eu digo para ela que é um pouco mais”, relatou Fernanda Torres.

A atriz também lembrou que o pai, Fernando Torres, compartilhava das mesmas preocupações, especialmente com o Imposto de Renda, que o deixava aflito todos os anos.

Após sua morte, a família buscou ajuda profissional para organizar as finanças, e Torres aprendeu a planejar o orçamento anual, não apenas mensal.

Esse cuidado extremo tem raízes na origem modesta da atriz, filha de operários, e na instabilidade que marcou o início de sua carreira.

Fernanda Montenegro nasceu em 16/10/1929, no Rio de Janeiro. Seu nome de batismo, porém, é Arlette Pinheiro Monteiro Torres. Aos 15 anos, ela fez um concurso para ser locutora da Rádio Ministério da Educação e Saúde, atual Rádio MEC.

Ela foi aprovada e não demorou muito para também se interessar por radionovelas. Logo, resolveu adotar o nome artístico de Fernanda Montenegro e também dar aulas de português para estrangeiros, como forma de melhorar os rendimentos.

Em 1950, Fernanda Montenegro ingressou no teatro e, no ano seguinte, foi a primeira atriz contratada da recém criada TV Tupi. Já em 1954, transferiu-se para a Record e participou, entre outras, da primeira novela da história da emissora. Em 56, voltou para a TV Tupi, onde fez mais novelas e teleteatros.

Nos anos seguintes, ela teve novas passagens pela Tupi, além da Excelsior, TV Rio e Bandeirantes. Em 1981, Fernanda Montenegro foi contratada pela TV Globo.

Logo no primeiro ano, Montenegro atuou em "Baila Comigo", de Manoel Carlos. Ela já tinha tanto respeito que o papel de Sílvia Toledo foi feito "sob encomenda". Ainda em 81, fez "Brilhante".

Já em 1986, Montenegro participou da novela "Cambalacho". Em 1990, ela teve participação especial em "Rainha da Sucata", outro clássico. No mesmo ano, integrou o elenco da minissérie "Riacho Doce". Em 91, interpretou a cafetina Olga Portela, na novela "O Dono do Mundo" (foto).

Apesar de vilã, a personagem cativou o público, assim como Beatriz Falcão, em "Belíssima" (2005).

Em 1998, ela protagonizou o filme "Central do Brasil". O longa foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e a atuação de Fernanda lhe rendeu indicações a vários prêmios, inclusive ao Oscar de Melhor Atriz.

O filme conta a história de um garoto pobre e analfabeto que ficou órfão da mãe e agora quer ir pro Nordeste atrás do pai. Dora, a personagem de Fernanda, o ajuda nessa missão.

Fernanda Montenegro é amplamente reconhecida como a maior atriz brasileira de todos os tempos. Ela recebeu 119 indicações a diversos prêmios.

A indicação de Fernanda Montenegro ao Oscar a tornou a primeira latino-americana e a única brasileira nomeada para Melhor Atriz nessa premiação. Em 2025, sua filha, Fernanda Torres, igualou o feito ao ser indicada pela performance em “Ainda Estou Aqui”.

Muito por conta disso, ela acabou ficando famosa internacionalmente. "Central do Brasil" rendeu a ela o Urso de Prata, do Festival de Berlim.

E Fernanda também concorreu por esse trabalho ao Globo de Ouro de 1999. Prêmio, por sinal, que a filha Fernanda Torres ganhou no início de 2025 pela atuação em "Ainda Estou Aqui".

Outro trabalho marcante de Fernanda foi como Nossa Senhora no filme "O Auto da Compadecida" (2000), de Guel Arraes. O longa é um dos mais famosos da história do Brasil, sendo premiado até no exterior.

Em 2017, Fernanda Montenegro atuou em "O Outro lado do Paraíso". A novela é amplamente reconhecida como uma das menos bem sucedidas da emissora, mas a atriz deu outro show de atuação.

Em 2021, ela foi a primeira atriz a entrar na Academia Brasileira de Letras. Ela é a primeira mulher a ocupar a cadeira 17 deste seleto time fundado por Machado de Assis em 1895.

Recentemente, Fernanda Montenegro protagonizou o filme “Vitória”, com direção de Andrucha Waddington e Breno Silveira, o longa é baseado em uma história real contada no livro “Dona Vitória da Paz”, de autoria do jornalista Fábio Gusmão. A obra retrata a luta da personagem para denunciar um esquema de tráfico de drogas na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro.

A atriz, aliás, retornou aos palcos em julho de 2025 após um período de férias. Como a própria anunciou à época.

Uma curiosidade: em 2024, a atriz entrou no Guinness Book, o Livro dos Recordes, ao registrar o maior público de uma leitura filosófica com o monólogo “A Cerimônia do Adeus”, texto de Beauvoir, para uma plateia de mais de 15 mil pessoas no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.