
Durante décadas, os fliperamas foram um dos grandes símbolos do lazer urbano no Brasil.
Espaços repletos de máquinas coloridas, sons eletrônicos e competição, eles marcaram a infância e a juventude de gerações que viveram, sobretudo, entre os anos 1980 e 1990, período da febre dos jogos eletrônicos em ambientes coletivos.
Importados inicialmente dos Estados Unidos e do Japão, esses equipamentos trouxeram títulos que se tornariam clássicos, como Pac-Man, Space Invaders, Street Fighter, Mortal Kombat e The King of Fighters.
Mas antes dos arcades digitais dominarem os salões, havia uma máquina que já chamava atenção: o pinball, ou jogo de pinball, com sua mesa iluminada, botões laterais e bolinhas metálicas que exigiam reflexo e habilidade.
O termo fliperama tem origem direta no pinball. As alavancas usadas nessas mesas, chamadas em inglês de flippers, deram nome às primeiras máquinas trazidas ao Brasil.
Assim, antes mesmo dos jogos eletrônicos, fliperama era sinônimo de pinball. Com o tempo, a palavra passou a designar também os salões de jogos e, depois, qualquer máquina de arcade.
Um dos traços mais característicos desses espaços é o uso de fichas e moedas. Cada partida depende do tilintar metálico na máquina, um ritual que faz parte da experiência.
Na década de 1990, os fliperamas atingiram o auge no Brasil. Jogos de luta transformaram os salões em arenas improvisadas, com filas diante das máquinas e torcidas barulhentas acompanhando cada golpe.
Rivalidades entre bairros e escolas, campeonatos informais e até disputas por quem ficaria mais tempo no controle marcaram a época. O fliperama era, mais do que um local de diversão, um espaço de convivência e identidade juvenil.
Com a popularização dos videogames domésticos e, mais tarde, dos computadores e celulares, os fliperamas começaram a perder força nos anos 2000.
Muitos estabelecimentos fecharam, e o hábito de jogar em grupo migrou para as plataformas online. Ainda assim, os fliperamas nunca desapareceram de vez: transformaram-se em nicho e memória afetiva.
Hoje, bares temáticos e casas de entretenimento em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte resgatam o espírito dos antigos fliperamas, oferecendo máquinas clássicas, inclusive pinballs restaurados, ao lado de títulos modernos.
Em shoppings, ainda é possível encontrar áreas dedicadas ao arcade. São lugares no Brasil que preservam esse universo nostálgico. Espaços que unem saudosistas e novas gerações em torno das máquinas de pinball, dos arcades clássicos e de experiências modernas inspiradas nesse tipo de entretenimento.
Em São Paulo, por exemplo, o público encontra opções bastante variadas. Um dos locais mais tradicionais é o Lord’s Diversões, no bairro do Tatuapé, que há décadas mantém viva a essência dos fliperamas, com máquinas antigas e pinballs que atraem um público fiel.
Também na capital paulista está a rede Playland, com unidades em diferentes shoppings, que mistura atrações infantis com os jogos de ficha que marcaram época.
O MorumbiShopping, por sua vez, abriga o HotZone, um parque indoor que reúne desde simuladores até os clássicos arcades, muito procurado por famílias.
Já o Bario Bar, com unidades em Pinheiros e no Tatuapé, aposta em uma proposta diferente: unir a atmosfera retrô das máquinas a um espaço de bar, com mais de cem jogos disponíveis, entre fliperamas, pinballs e simuladores, atraindo tanto jogadores casuais quanto os apaixonados por nostalgia.
Outra proposta curiosa que surgiu recentemente é o Arcade Haus, em Santo Amaro e no Tatuapé. Apresentado como o primeiro fliperama imersivo da América Latina, o espaço vai além das máquinas tradicionais e oferece salas interativas, com pisos de LED e botões espalhados pelas paredes, que exigem movimentos físicos e colaboração entre os jogadores.
No Rio de Janeiro, o destaque é o Rio Pinball Clube, localizado no bairro de Ramos. O espaço é considerado um paraíso para os fãs, com cerca de 130 máquinas em funcionamento, incluindo desde clássicos do pinball até arcades como Pac-Man e Donkey Kong.
Além de funcionar como ponto de encontro para apaixonados por esse universo, o clube também aluga máquinas para eventos, mantendo vivas a cultura e a tradição que marcaram gerações de jogadores.
Hoje, muitos desses lugares funcionam ainda no modelo das fichas ou cartões recarregáveis, o que reforça a memória afetiva de quem cresceu gastando moedas para garantir “só mais uma partida”.