Uma equipe de pesquisadores do Acre e de São Paulo descobriu um fóssil raro de uma tartaruga gigante que viveu há cerca de 13 milhões de anos na região amazônica.

O fóssil pertence a um exemplar da espécie Stupendemys geographicus, que habitou a região durante o período Mioceno.

O achado ocorreu às margens do Rio Acre, na região de Boca dos Patos, em Assis Brasil, próximo à fronteira com o Peru.

Segundo o coordenador da pesquisa, Carlos D'Apolito Júnior, da Universidade Federal do Acre (Ufac), o exemplar é um dos mais bem preservados já encontrados da espécie

"Nunca foi visto [um fóssil] assim tão grande, tão bem preservado, então, é um fóssil muito importante para entender a paleontologia da região aqui, os animais que viveram no passado", disse ele.

A Stupendemys geographicus é considerada a maior tartaruga de água doce que já existiu, podendo chegar a mais de 3 metros de comprimento.

Devido ao tamanho e peso, o fóssil ainda não foi transportado para a capital, Rio Branco, mas está guardado em um acampamento à espera de um caminhão da Ufac.

Após os estudos, o fóssil será levado ao laboratório de paleontologia da universidade.

O objetivo é ampliar o conhecimento sobre a fauna pré-histórica da região amazônica por meio da exploração de rios e áreas remotas do Acre.

A pesquisa foi financiada por órgãos como o CNPq, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (Fapac), e conta com pesquisadores da Ufac, USP de Ribeirão Preto e Unicamp.

Fósseis dessa espécie haviam sido encontrados mais recentemente em 2020: um no deserto de Tatacoa, na Colômbia, e outro na Venezuela, na região de Urumac.

Na Venezuela, foi encontrada uma carapaça completa, enquanto a do Brasil foi só a metade.

"Com o que temos do fóssil será possível estimar o tamanho do animal após os estudos no laboratório", explicou Edson Guilherme, membro do laboratório de paleontologia da Ufac.

A Stupendemys geographicus viveu há cerca de 7 a 13 milhões de anos, em regiões que hoje correspondem à bacia Amazônica, abrangendo partes da Venezuela, Colômbia, Peru e Brasil.

O nome "Stupendemys" significa "tartaruga estupenda", uma clara referência ao seu tamanho colossal.

Essa espécie pertence à família dos podocnemídeos, grupo de tartarugas que ainda hoje tem representantes vivos, como a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa).

No entanto, a Stupendemys se destacava por sua carapaça imensa e robusta, que a protegia de predadores e provavelmente a ajudava a enfrentar as correntes dos rios da época.

Estudos indicam que esses animais habitavam lagos e grandes rios tropicais, e se alimentavam principalmente de vegetação aquática, frutas e, possivelmente, pequenos animais.

Fósseis da Stupendemys geographicus começaram a ser descobertos na década de 1970, mas foi a partir de achados mais recentes que os cientistas conseguiram montar uma visão mais completa de sua anatomia e ecologia.

A existência da Stupendemys revela muito sobre o ecossistema amazônico pré-histórico, que era habitado por outros gigantes, como o jacaré Purussaurus e o peixe carnívoro Phractocephalus.