
Fundado pelo cantor João Nogueira, em 1979, o Clube do Samba foi declarado Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Rio pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Nesse sentido, a esposa do artista, Ângela Nogueira, celebrou a importância da medida.
O movimento se tornou um espaço de promoção da cultura popular e contou com a participação de grandes artistas da música brasileira. Entre eles, Beth Carvalho, Clara Nunes, Cartola, Dona Ivone Lara, Bira Presidente, Alcione, Martinho da Vila e Gilberto Gil.
"Para nós, é de uma alegria muito grande, porque com isso, podemos ampliar todos os projetos que temos, porque sempre tem essa questão burocrática", afirmou Ângela Nogueira ao Jornal O Dia.
"Sendo um patrimônio cultural e imaterial, facilita muito para captar recursos, dar seguimento aos projetos, oficinas de música, arte e quero ampliar para esporte. Tem o bloco, os bailes, as rodas de samba. Isso tudo facilita. Dá uma satisfação de que valeu a pena", completou.
"O João era muito firme, desde 1979, colocando o samba para ele se projetar cada vez mais. O Clube do Samba foi uma das alavancas para que o samba pudesse estar no patamar que está hoje", frisou.
"Enorme satisfação de conduzir, junto com minha família, esse legado tão lindo deixado pelo meu pai. É também uma grande vitória para o samba e para todos que mantêm viva essa cultura", afirmou Diogo Nogueira, também ao O Dia.
Nascido no Rio de Janeiro, João Nogueira cresceu em um lar com forte influência musical, ao aprender a tocar violão e a compor ainda jovem, com a ajuda de sua irmã Gisa Nogueira.
João Nogueira começou a compor aos quinze anos para o bloco carnavalesco Labareda, do Méier, através do qual conheceu o músico Moacyr Silva, dirigente da gravadora Copacabana. Ele o ajudou a gravar o samba Espere, Ó Nega, em 1968.
Ganhou notoriedade nacional nos anos 1970 com o samba "Das 200 Para Lá" (1970), que defendia a expansão da plataforma continental brasileira e foi gravado por Eliana Pittman.
Seu primeiro disco foi um compacto simples com "Alô Madureira e Mulher Valente". Em 1969, Elizeth Cardoso gravou seu "Corrente de Aço", no disco Falou.
Ele se tornou conhecido por sua facilidade em transitar pelos subgêneros do samba e por seu estilo próprio, além de sua voz de timbre grave.
Teve parcerias musicais marcantes, principalmente com o compositor Paulo César Pinheiro, com quem escreveu obras-primas como "Súplica", "Poder da Criação" e "Minha Missão".
Desse modo, suas letras abordam a boemia do Rio de Janeiro, a crítica social, a política e o cotidiano, com humor, sensibilidade e crítica social.
João Nogueira era membro da tradicional Portela, sendo integrante de sua ala de compositores. Ele também fez parte da Tradição, quando algumas alas da Portela se desmembraram para fundá-la. Mais tarde, voltou à sua querida escola e reapareceu nos desfiles.
Outros discos notáveis incluem "Vem Quem Tem" (1975), "Wilson, Geraldo, Noel, João Nogueira" (1981) e "Pelas terras do pau Brasil" (1984).
A fundação do Clube do Samba, em 1979, foi um ato de resistência para valorizar o samba em um período de desprestígio do gênero.
Seu legado é o de um defensor do samba de raiz e da cultura popular, que inspirou a continuidade do Clube do Samba e a carreira de seu filho, o sambista Diogo Nogueira.
Deixou também como legado dezoito discos e mais de 300 sambas escritos, que foram gravados por grandes artistas como Elis Regina e Clara Nunes.
Uma das músicas mais cantadas de João, uma espécie de hino dos compositores, foi um sucesso do disco de 1980, "Boca do Povo". Trata-se de "Poder da Criação", novamente com P. C. Pinheiro, seu parceiro mais constante da carreira.
João Nogueira teve quatro filhos: Iara, Tatiana, Clarisse e Diogo Nogueira. Diogo, o filho mais novo, seguiu os passos do pai e se tornou um reconhecido sambista e compositor.
"Meu pai foi um cara fundamental como pessoa e como artista. O sonho do meu pai era cuidar de crianças, dando aulas de música, teatro... e a gente mantém isso, o Clube do Samba tem um espaço para atender essas crianças", disse, Diogo.
"Ele também lutava pela exaltação da música popular brasileira. Se hoje o Brasil é um dos países que mais consomem sua própria música e gêneros nacionais, tem a mão do meu pai nesse processo histórico de pertencimento", ponderou.
Com uma carreira marcante no mundo do samba, João Nogueira faleceu em 5 de junho de 2000, aos 58 anos, vítima de um infarto, após ter sofrido um AVC.
Após sua morte em 2000, diversas homenagens foram realizadas, como o lançamento do disco "João Nogueira, através do espelho" com participação de outros sambistas, e o Centro Cultural João Nogueira, no Rio de Janeiro.