No alto das árvores do Zoológico Lincoln Park, em Chicago (EUA), uma cena curiosa surpreende os visitantes mais atentos. Ali, acima do recinto dos lobos-vermelhos, centenas de garças-noturnas de coroa preta encontraram um local ideal para se reproduzir.

Aparentemente improvável, essa convivência tem um fundamento estratégico: os lobos afastam ameaças comuns às garças, como guaxinins e aves de rapina. O resultado é uma convivência que beneficia, afinal, os dois lados. Que tal, então, conhecermos mais sobre as garças?

Elas são aves da família Ardeidae, a mesma das garcetas, socós e savacus. Estão distribuídas por diversos continentes e habitam principalmente zonas úmidas, como manguezais, margens de rios, brejos e lagoas.

Seu porte elegante, pescoço alongado e voo cadenciado tornam-nas inconfundíveis no céu ou pousadas em ramos altos. Existem dezenas de espécies, cada uma com características próprias, mas todas compartilham uma ligação estreita com a água e os ecossistemas alagadiços.

A garça-noturna de coroa preta, protagonista da história de Chicago, é uma espécie que costuma se movimentar durante o entardecer e a noite, diferentemente de suas parentes mais ativas sob o sol.

Em tempos de reprodução, busca locais elevados e protegidos, como árvores frondosas, onde constrói ninhos comunitários com galhos secos. Pais se revezam no cuidado dos filhotes e há registros de aves adultas alimentando crias que não são suas.

Essa cooperação aumenta as chances de sobrevivência dos filhotes em ambientes de alta densidade populacional. O instinto protetor das garças na escolha do local dos ninhos ficou evidente no zoológico.

Mesmo havendo outros predadores por perto, como ursos-negros-americanos, a colônia se concentra principalmente acima dos lobos-vermelhos.

Isso porque os ursos têm habilidade para escalar árvores, tornando-se uma ameaça maior aos ninhos. Já os lobos, terrestres e indiferentes aos vizinhos aéreos, acabam sendo uma espécie de “guarda-costas” involuntários.

A estratégia mostra a capacidade de adaptação das garças e seu instinto de preservação. Fora dos zoológicos, porém, garças enfrentam desafios cada vez maiores.

A destruição de áreas úmidas, a poluição de rios e lagos e a urbanização desordenada reduziram significativamente o espaço natural dessas aves. Em algumas regiões, como Illinois, a garça-noturna de coroa preta está ameaçada de extinção.

Ele indica que, com planejamento e atenção à biodiversidade, é possível criar espaços urbanos que convivam com espécies silvestres, inclusive aquelas em situação delicada.

As garças também são figuras emblemáticas em muitas culturas. No Japão, simbolizam longevidade e pureza. No Brasil, são vistas com frequência em regiões de alagados, como o Pantanal e a Amazônia, onde sua presença está ligada ao equilíbrio ecológico.

Alimentam-se de pequenos peixes, anfíbios, insetos e, ocasionalmente, pequenos mamíferos. Seu papel nos ecossistemas é essencial, pois ajudam a controlar populações de presas e indicam a saúde ambiental de áreas alagadas.

Durante a época de reprodução, que varia conforme a espécie e o clima local, as garças escolhem árvores de grande porte e galhos resistentes para aninhar.

A escolha criteriosa da vegetação ajuda a manter os ninhos seguros e estáveis ao longo da temporada. Os galhos utilizados, por sua vez, são coletados em árvores vizinhas, principalmente olmos e carvalhos.

Mesmo com o sucesso reprodutivo da colônia no zoológico, especialistas alertam para riscos como surtos de gripe aviária ou tempestades severas, que podem comprometer a população de forma drástica.

A alta concentração de aves em um único espaço, embora vantajosa em termos de proteção, também aumenta a vulnerabilidade a eventos isolados. Por isso, o monitoramento constante e a gestão cuidadosa dos recintos são fundamentais.

A história das garças sobre os lobos em Chicago é, portanto, mais do que uma curiosidade zoológica. Trata-se de uma prova viva da resiliência da natureza e da importância de ambientes urbanos bem planejados.

Ao longo das rotas migratórias, essas aves formam relações únicas com diferentes espécies e aprendem a reconhecer onde estarão mais seguras.

O comportamento em Lincoln Park pode, com o tempo, se repetir em outros pontos do continente, desde que haja condições adequadas. Em um mundo cada vez mais urbanizado, histórias como essa inspiram reflexão sobre a convivência entre humanos e a vida selvagem.

As garças, com sua postura altiva, voo sereno e inteligência silenciosa, seguem nos lembrando que o equilíbrio é possível. Basta entender, respeitar e cuidar do que já está ao nosso redor.