Neguinho de Beija-Flor fará parte da banca de jurados de um reality show para escolher o seu sucessor na escola de Nilópolis. O programa será exibido no Multishow, e as gravações começam a partir de junho, segundo Gabriel David, atual presidente da Liesa.
Ao lado de integrantes da escola campeã de 2025 e especialistas em samba e carnaval, Neguinho irá participar das gravações do programa, que terá oito participantes.
O icônico cantor também será tema de um documentário produzido pela Globoplay, com estreia prevista para acontecer ainda em 2025.
Um dos maiores intérpretes da história da folia carioca, Neguinho da Beija-Flor despediu-se da Sapucaí em 2025 após 50 anos à frente do carro de som da azul e branco da Baixada Fluminense. "A gente morre duas vezes, quando morre de verdade e quando para", afirmou.
E a despedida foi em grande estilo, com o seu 15º título pela Beija-Flor. A escola desfilou com enredo "Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, em homenagem ao diretor morto em 2021.
Aposentado do carnaval carioca após 50 anos, Neguinho da Beija-Flor também estrela um novo álbum, intitulado de “Empretecendo” ao lado de Xande de Pilares. A obra conta com 19 faixas e 25 músicas e firmam o ponto na cruzada antirracista.
Xande e Neguinho convidaram outros sambistas para participar do projeto. Entre eles, estão Ferrugem, Zeca Pagodinho, Teresa Cristina, Pique Novo, Renato da Rocinha, Andrezinho do Molejo, Helinho do Salgueiro, Swing e Simpatia, Revelação e Vando Oliveira.
O lendário intérprete comandou a escola de 1976 a 2025 e foi a voz de todos os 15 campeonatos conquistados pela azul e branca. Neguinho também cantou na Unidos da Tijuca, em 1980, no Acesso, e esteve no carro de som da Mocidade Alegre, em São Paulo, em 1998 e 1999.
Neguinho venceu cinco vezes (1985, 2002, 2003, 2009 e 2013) o Estandarte de Ouro de Melhor Intérprete e quinze títulos (1976, 1977, 1978, 1980, 1983, 1998, 2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2011, 2015, 2018 e 2025). Além disso, é compositor de cinco sambas da escola (1976, 1978, 1981, 1983 e 1984).
Luiz Antônio Feliciano Marcondes nasceu em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, dia 29 de junho de 1949. Filho de músico, ganhou um concurso de cantores mirins, aos dez anos de idade, interpretando um samba de Jamelão.
Neguinho tem um irmão que seguiu o mesmo caminho: a paixão pelo samba, música e carnaval. Ninguém menos que Édson Feliciano Marcondes, o Nego, outro grande intérprete das escolas de samba. Já sua irmã, Tina Flor, morreu em 2015.
Com uma voz potente e afinada, estreou como puxador no bloco Leão de Iguaçu, em 1970. Sem espaço entre os compositores de Salgueiro, Império Serrano, Portela e Mangueira, chamou a atenção de Cabana (Silvestre David da Silva), compositor dos primórdios da Beija-Flor.
Na época, em 1975, era conhecido por Neguinho da Vala, apelido nascido na infância terrivelmente pobre, em Nova Iguaçu. Em Nilópolis, criou o bordão "Olha a Beija-Flor aí, gente!", que se tornou um dos gritos de guerra mais conhecidos do carnaval.
Neguinho, então, incorporou o nome artístico à sua certidão de nascimento. Anísio (Abraão David, patrono da Beija-Flor) pediu ao Cabana que o chamasse para substituir o Bira Quininho, puxador da época, que tinha falecido.
Pé quente, o intérprete fez sua estreia da melhor forma possível. Em 1976, disputou as eliminatórias de samba e venceu. Assim, estreou no estúdio cantando o samba de sua autoria, e a Beija-Flor ainda foi campeã pela primeira vez com "Sonhar com Rei Dá Leão".
Lançou seu primeiro disco em 1980. Mas emplacou outros, como os sambas-enredo "Os Cinco Bailes da História do Rio" (Silas de Oliveira / Dona Ivone Lara / Bacalhau), "Aquarela Brasileira" (Silas de Oliveira), "Sonhar com Rei Dá Leão" ou sambas-canção, como "Nervos de Aço" (Lupicínio Rodrigues).
O intérprete não só venceu seu primeiro desfile, como emplacou logo um tricampeonato. Em 1977, o bi foi com o enredo "Vovó e o rei da saturnália na corte egipciana" e, em seguida, levantou o tri ao cantar "A criação do mundo na tradição nagô". Era uma fase vitoriosa ao lado de Laíla e Joãosinho Trinta.
Nos anos 80, Neguinho conquistou dois títulos, em 1980 e 1883. No entanto, os desfiles mais marcantes da Beija-Flor foram os vices de 1986 e 1889. No primeiro, desfilou sob forte chuva ao falar sobre o mundo do futebol, enquanto no segundo trouxe o icônico "Ratos e Urubus, larguem minha fantasia"
Outras interpretações, fora do carnaval, bem conhecidas são "Ângela", "Divina", "Magali" e "Esmeralda" Mas sua maior composição é "O Campeão (Meu Time)", cantada em estádios de futebol ("Domingo eu vou ao Maracanã / Vou torcer pro time que sou fã").
Quem compôs o tema “Globeleza” foram os autores Jorge Aragão e José Franco Lattari, assim como Quinho do Salgueiro foi o primeiro a cantá-lo. Contudo, foi na voz de Dominguinhos e Neguinho que a música explodiu e embalou os Carnavais da TV Globo.
Nos anos 90, Neguinho só conquistou o título em 98, junto da Mangueira, com o enredo "O mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu!". Depois, foi tetra vice. Um deles com um desfile marcante, em 2001, "A saga de Agotime, Maria mineira Naê!
Depois dos vices, Neguinho foi, mais uma vez, tricampeão seguido com a Beija-Flor, nos anos de 2003, 2004 e 2005. No primeiro desfile, a escola pediu o combate à fome e a busca pela paz (2003). Em seguida, falou sobre Manaus (2004) e as sete missões jesuíticas no Rio Grande do Sul (2005).
Em 2005, lançou seu primeiro DVD, na Cidade do Samba, contando com a presença de Sandra de Sá e dos intérpretes das escolas de samba. Fez uma turnê internacional, com shows em países como Bélgica, Itália, Suíça, Holanda, Espanha, França, entre outros.
Neguinho venceu a luta contra um câncer do intestino em 2008. No ano seguinte, em 23 de fevereiro, casou-se com Elaine Reis, na Marquês de Sapucaí, poucos minutos antes de cantar no carnaval. Ele tem cinco filhos, cinco netos (um falecido) e um bisneto.
Nos últimos cinco títulos, está o bi (2007 e 2008), com Áfricas e um enredo sobre o Macapá. Na década seguinte, em 2011, interpretou o samba sobre Roberto Carlos, venceu em 2015, ao falar sobre Guiné Equatorial e cantou, em 2018, sobre as mazelas do Brasil.