Um homem passou 18 anos injetando veneno de cobra em si mesmo numa tentativa de desenvolver um antídoto universal.

Tim Friede, especialista em venenos, se deixou ser picado 856 vezes e chegou a quase morrer depois de ser mordido por duas cobras ao mesmo tempo.

"Eu basicamente parei de respirar e [quase] morri. Não foi divertido. Eu tinha imunidade suficiente para uma picada, mas não para duas", contou à National Geographic.

Friede já expôs seu corpo a venenos de algumas das cobras mais perigosas do mundo, como mambas-negras e najas, e registrou tudo em vídeos no YouTube.

Seus anticorpos únicos chamaram a atenção do imunologista Jacob Glanville, da empresa Centivax.

Usando amostras do sangue de Friede, cientistas criaram um antídoto experimental que, em testes com camundongos, neutralizou o veneno de 19 espécies de cobras altamente letais.

O resultado foi algo inédito, pois soros tradicionais são específicos para cada espécie e geralmente feitos a partir de anticorpos de cavalos ou ovelhas.

Se aprovado, o soro derivado do sangue de Friede pode oferecer proteção mais ampla com menor risco de reações adversas.

A equipe de cientistas testou dois anticorpos retirados de Tim Friede em camundongos.

O primeiro, chamado LNX-D09, protegeu contra o veneno de seis espécies de cobras e, quando combinado com o remédio varespladibe, funcionou contra mais três.

O segundo anticorpo, chamado SNX-B03, ofereceu proteção parcial contra todas as espécies testadas, incluindo algumas das mais mortais do mundo.

O objetivo do imunologista Jacob Glanville e da empresa Centivax é criar um antiveneno universal — um único tratamento eficaz contra qualquer picada de cobra, em qualquer lugar do mundo.

Até agora, os testes focaram nos elapídeos (família que inclui najas e mambas), mas a equipe planeja expandir para os viperídeos (como cascavéis).

Entre os próximos passos estão testes clínicos rigorosos em humanos e em cães picados por cobras na Austrália.

Se aprovado, esse soro poderá simplificar o tratamento de picadas, especialmente em regiões remotas onde identificar a espécie de cobra é mais difícil.

Considerando o nível de toxicidade do veneno, atualmente as três cobras mais venenosas do mundo são:

Cobra-real (Sudeste Asiático e Índia): A Cobra-real tem um veneno capaz de causar necrose, visão turva, tontura e paralisia. A taxa de mortalidade pode chegar a 30%, mesmo com antídoto;

Mamba-negra (África Subsaariana): Altamente agressiva quando ameaçada, a Mamba-negra é capaz de morder várias vezes seguidas. Seu veneno pode causar paralisia progressiva, convulsões e falência respiratória. Sem tratamento, a morte por vir de 7 a 15 horas;

Taipan-do-interior (Austrália): Uma única picada pode conter veneno suficiente para matar até 100 homens adultos. Os efeitos incluem paralisia (em minutos), problemas de coagulação sanguínea e hemorragia interna.