
Uma reportagem exibida no "Fantástico", da TV Globo, mostrou como a crise no setor imobiliário afeta duramente a vida da população em uma das maiores metrópoles do mundo.
Em Hong Kong, a falta de moradias acessíveis levou milhares de pessoas a viverem nos chamados “apartamentos-caixão”.
São verdadeiros microespaços sem janelas, com banheiros minúsculos e cozinhas compartilhadas.
Algumas unidades chegam a ter menos de 2 metros de comprimento e 0,5 metro de largura.
Para se ter uma ideia, esses espaços são ainda menores que uma solitária em uma prisão de Hong Kong.
O fenômeno revela uma dura realidade marcada por aluguéis altos e desigualdade social extrema.
Moradores pagam cerca de R$ 1.400 por mês por locais onde mal podem se mover, enquanto o luxo domina os arranha-céus da cidade.
Especialistas apontam que a crise resulta de dois fatores: especulação imobiliária e da precarização do trabalho.
Para alguns moradores, como Mr. Tang, o sonho é ter o mínimo de conforto e privacidade.
"Um banheiro em que eu consiga entrar de frente. Uma cozinha. Um espaço para colocar uma cadeira e uma mesa ao lado da cama”, relatou ele.
A assistente social Lain Shan Sze, que acompanha esses moradores há 30 anos, relata histórias marcadas pela solidão, calor sufocante e falta de dignidade.
A faxineira Wai-Shan Lee, uma das moradoras dos “apartamentos-caixão”, revela que passou a viver ali após perder a mãe e brigar com o irmão.
“Morar lá é devastador. Sinto falta da minha casa, quero muito voltar para o mundo de quando eu era pequena", contou ao Fantástico.
Em Hong Kong, o preço médio de um imóvel é cerca de 20 vezes maior que a renda anual de um trabalhador comum.
A escassez de moradias públicas e as filas de espera de anos tornam esses espaços minúsculos a única opção viável para quem ganha pouco.
Organizações sociais pedem reformas estruturais e subsídios habitacionais, mas, por ora, os apartamentos-caixão continuam se multiplicando.
Recentemente, esses espaços foram rebatizados de “microapartamentos” em uma tentativa de continuar monetizando em cima da desigualdade urbana.
Com aproximadamente 7,4 milhões de habitantes, Hong Kong tem o maior número de arranha-céus do mundo, ultrapassando cidades como Nova York.
Paradoxalmente, em meio a tanta riqueza, o espaço é tão escasso que cemitérios verticais e crematórios automatizados foram criados para lidar com a falta de terreno.