A história de uma mulher que viveu cerca de 70 anos sem qualquer documento e só foi conseguir sua primeira certidão de nascimento em 2025 ganhou destaque nos noticiários.

Maria da Imaculada Conceição, conhecida como Conceição, teve o apoio da Defensoria Pública do Ceará para conseguir a documentação.
Ela é moradora de Caucaia, município de cerca de 375 mil habitantes da Região Metropolitana de Fortaleza.
O processo de identificação contou com a parceria da Perícia Forense (Pefoce), que realizou exame de arcada dentária e coleta de impressões digitais para estimar sua idade e confirmar que ela não possuía registros oficiais.
O exame apontou que Conceição nasceu por volta de 1957, informação que serviu de base para o pedido judicial de registro tardio.
Sem sobrenome, origem ou data de nascimento conhecidos, ela teve sua história reconstruída por meio de entrevistas e buscas em cartórios.
“Foi mesmo muito emocionante porque ela falava, mas não tinha esses números, não tinha essas datas, esses momentos de confraternização, de aniversário…", explicou o defensor público Fernando Régis.
Conceição é analfabeta e foi levada ainda criança para trabalhar como empregada doméstica em Fortaleza.
Ela nunca estudou, não foi vacinada e viveu à margem de qualquer política pública.
“Essa pessoa foi sendo criada trabalhando e criando os filhos dessa família [...] E ela envelheceu, as pessoas deixaram ela meio que de lado", contou o defensor público.
A falta de documentos a impedia até mesmo de receber atendimento médico, situação descoberta por uma amiga que a levou à Defensoria.
“A dona Conceição é uma vitoriosa, é uma guerreira. Ela sobreviveu a uma pandemia sem acesso a uma vacina, sem acesso a um benefício, um programa de governo”, ressaltou Fernando Régis.
A decisão judicial, emitida pela 1ª Vara Cível de Caucaia, reconheceu oficialmente sua identidade e permitiu que ela escolhesse seu nome completo.
A idosa escolheu o nome Maria da Imaculada Conceição e o dia 8 de dezembro como data de seu aniversário.
Nesse dia, a comunidade católica comemora o Dia da Imaculada Conceição, santa da qual ela é devota.
A data escolhida por Conceição também é o Dia da Justiça. “Foi uma coincidência muito feliz”, afirmou o defensor público.
Com os novos documentos em mãos, Conceição agora busca ser incluída no Cadastro Único (CadÚnico) para acessar benefícios sociais.
"A partir de hoje, que eu nasci novamente, aí eu vou tocar a minha vida pra frente. Vou continuar trabalhando, lutando pela minha vida, do mesmo jeito que eu vivia", disse ela ao g1.
"Agora vai ser diferente, né? Agora eu já tenho o que eu não tinha pra trás, agora eu já tenho, que é meu documento. Agora eu posso tudo", ressaltou a idosa.