Localizada na Cisjordânia, próxima ao rio Jordão e ao norte do Mar Morto, Jericó é amplamente reconhecida como a cidade mais antiga do mundo.
Arqueólogos estimam que sua origem remonta a cerca de 9.000 a.C., ou seja, há aproximadamente 11 mil anos, muito antes das pirâmides do Egito, das cidades sumérias e até mesmo da invenção da escrita.
Com uma história tão longa e complexa, a cidade é considerada um verdadeiro berço da civilização humana, onde a transição do nomadismo para a vida agrícola começou a se consolidar.
As escavações arqueológicas realizadas desde o final do século 19 revelaram camadas sobrepostas de civilizações que habitaram a região por milênios.
O sítio arqueológico conhecido como Tell es-Sultan, a poucos quilômetros do centro atual de Jericó, é o principal ponto de interesse histórico. Nesse local, pesquisadores encontraram restos de casas de barro, ferramentas de pedra e, sobretudo, as ruínas de uma imponente muralha que cercava a antiga cidade.
Essa muralha, construída por volta de 8.000 a.C., é a mais antiga estrutura defensiva já descoberta, o que indica que Jericó já possuía organização social e conhecimentos de engenharia avançados para sua época.
Outro achado notável é a Torre de Jericó, uma estrutura circular de pedra com mais de 8 metros de altura e uma escada interna. Datada do mesmo período da muralha, ela teria servido como ponto de observação, defesa ou até mesmo como construção ritual. A precisão arquitetônica e a complexidade de sua execução surpreendem os estudiosos, pois evidenciam um estágio de desenvolvimento muito à frente de outras comunidades contemporâneas.
A localização de Jericó também é singular. A cidade está situada a aproximadamente 258 metros abaixo do nível do mar, o que a torna a localidade habitada mais baixa do planeta.
Seu posicionamento no Vale do Jordão, em meio a uma região árida, parece contraditório à primeira vista, mas foi justamente o acesso à água que permitiu sua sobrevivência milenar. A fonte de Ain es-Sultan, ou “Fonte de Eliseu”, fornece água doce em abundância e garantiu o florescimento da agricultura desde tempos pré-históricos.
Do ponto de vista histórico e religioso, Jericó é uma das cidades mais citadas na Bíblia. Nas escrituras, ela é descrita como a “Cidade das Palmeiras” e aparece no livro de Josué como o primeiro grande desafio dos israelitas ao entrarem na Terra Prometida.
Segundo o relato bíblico, as muralhas de Jericó desabaram após sete dias de procissões e toques de trombetas - um episódio que se tornou símbolo da fé e do poder divino.
No Novo Testamento, a cidade também tem destaque. Pelo relato bíblico, foi em Jericó que Jesus curou o cego Bartimeu e visitou Zaqueu, o cobrador de impostos que subiu numa figueira para vê-lo passar. Esses episódios tornaram Jericó um destino importante de peregrinação cristã até os dias atuais.
A história da cidade, no entanto, vai muito além dos textos religiosos. Ao longo dos séculos, Jericó foi conquistada, destruída e reconstruída diversas vezes. Passou pelas mãos de cananeus, israelitas, babilônios, gregos, romanos, bizantinos e árabes.
Durante o domínio romano, Herodes, o Grande, construiu ali um palácio luxuoso cercado por jardins e aquedutos, aproveitando o clima ameno do inverno. As ruínas desse palácio ainda podem ser visitadas e são uma das principais atrações históricas da região.
Atualmente, Jericó faz parte do território administrado pela Autoridade Palestina e tem cerca de 20 mil habitantes. Apesar de seu tamanho modesto, é um dos principais centros turísticos da Cisjordânia, atraindo visitantes interessados tanto em história quanto em espiritualidade.
Os turistas podem conhecer o sítio arqueológico de Tell es-Sultan e o Mosteiro da Tentação - onde, segundo a tradição cristã, Jesus foi tentado pelo diabo após jejuar por quarenta dias.
Outro cartão-postal é o teleférico que leva ao mosteiro grego-ortodoxo cravado nas rochas do monte.
Jericó também se destaca por sua produção agrícola. Graças ao solo fértil e à abundância de água subterrânea, a cidade é uma das principais fornecedoras de tâmaras, bananas e cítricos da região. As tâmaras de Jericó, em especial, são consideradas de excelente qualidade e são exportadas para diversos países.
No coração de Jericó também encontra-se o animado parque aquático Safari Aquapark, considerado o maior de sua categoria na região. Localizado na rua Japão, entrada sul da cidade, ele reúne mais de 30 atrações aquáticas
Nos últimos anos, esforços de preservação e cooperação internacional têm buscado proteger o patrimônio arqueológico de Jericó.
Em 2023, a Unesco reconheceu Tell es-Sultan como Patrimônio Mundial, destacando seu valor universal como testemunho das origens da urbanização e da vida comunitária humana. O reconhecimento reforçou o status de Jericó como um dos mais importantes sítios históricos do planeta.