
O consagrado sambista Jorge Aragão anunciou, durante a FLUP – Festa Literária das Periferias, realizada em Madureira, Zona Norte do Rio, que irá reduzir sua agenda de shows a partir do próximo ano. Segundo sua filha, Tânia, não seria uma aposentadoria formal.
O intuito de Aragão é aproveitar mais a vida pessoal, com tudo que conquistou até aqui ao lado dos familiares e ter mais tempo e qualidade para seguir a carreira.
Apesar da redução progressiva no número de shows, o artista garantiu que continuará a exercer uma das atividades que mais se destacou na carreira: as composições para manter viva sua produção artística.
"Não há de maneira nenhuma uma declaração de aposentadoria. Mas sim de redução na quantidade de shows. Temos agenda para 2026 já praticamente toda preenchida. E ele ainda pretende cantar bastante", destacou a empresária e filha Tânia Aragão.
Carioca de ascendência amazonense, Jorge nasceu e foi criado em Padre Miguel. Por lá, aprendeu a tocar violão de ouvido por volta dos 11 anos e teve influências da Jovem Guarda, rock internacional e o samba tradicional de mestres como Candeia e Monarco.
Autodidata, teve facilidade em aprender outros instrumentos como cavaquinho e guitarra. Após passar por diversos ofícios, entre eles técnico de ar condicionado, iniciou sua carreira na música na década de 1970, como guitarrista em bailes e casas noturnas.
Além disso, fez parte da Ala de Compositores do Bloco Carnavalesco "Cacique de Ramos", antes de se juntar ao Grupo Fundo de Quintal, do qual foi um dos fundadores e principal compositor.
O reconhecimento de Aragão como compositor veio em 1977, com a gravação de "Malandro" por Elza Soares. Outras de suas músicas de sucesso são "Coisinha do Pai" e "Vou Festejar", que foram gravadas por artistas como Beth Carvalho.
Deixou o Fundo de Quintal em 1981 para iniciar sua carreira solo, lançando seu primeiro álbum, que teve seu próprio nome. Anos mais tarde, o álbum chamou a atenção da RGE, que lançava discos de grandes nomes como Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho.
O período dos anos 1980 foi fundamental para o sucesso de álbuns como "Coisa de Pele", de 1986, e "Raiz e Flor", de 1988, que apresentaram canções de sua autoria e consolidaram a identidade musical do sambista.
Além disso, também lançou, naquela década, os álbuns "Verão", de 1983, e "Bar da Esquina", 1989, que incluíram sucessos e consolidaram seu nome no cenário musical do Brasil.
Ganhou destaque nacional como um dos principais nomes do samba. Da mesma forma que chamava atenção como intérprete, explorou seu lado compositor, com letras que apresentavam temas do cotidiano e da cultura afro-brasileira.
A carreira de Jorge Aragão nos anos 1990 foi marcada por uma intensa produção discográfica solo, com álbuns como "A Seu Favor", de 1990, "Chorando Estrelas", de 1992" e "Um Jorge", de 1993, além de trabalhos ao vivo que solidificaram sua popularidade.
Nos anos 2000, a carreira de Jorge Aragão foi marcada pela continuidade do sucesso como cantor e compositor, com o lançamento de vários álbuns. Entre eles, os "Ao Vivo 2", de 2000, e "Ao Vivo 3", 2004, além do "Da Noite pro Dia", de 2003.
Jorge Aragão continuou a se apresentar com frequência, ao lotar casas de show em todo o Brasil, como Canecão, ATL Hall e Olimpo.
É considerado um dos maiores compositores da música brasileira, com canções gravadas por diversos artistas renomados, como Alcione, Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Ney Matogrosso.
Além de "Coisinha do Pai" , que compôs com Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila, consagrada na voz de Beth Carvalho, enfileirou sucessos ao longo da consagrada carreira.
Entre eles, estão clássicos como "Claridade", "Vou Festejar", também gravada por Carvalho que se popularizou como canto de torcida organizada; "Alvará", "Terceira Pessoa", "Amigos… Amantes", "Do Fundo do Nosso Quintal", "Eu e você sempre" e "Enredo do Meu Samba"
Quase todos os grandes intérpretes de samba, como Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Alcione, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila têm canções de Jorge Aragão em seu repertório.
Como profundo conhecedor do gênero, trabalhou como comentarista dos desfiles de escolas de samba em diferentes emissoras de televisão, como a Globo, CNT e Manchete.
Aragão também menciona ter uma fé profunda em São Jorge e São José, santos de devoção de sua mãe. Algo que influenciou algumas de suas composições, como uma música sobre sua experiência de sobrevivência durante a pandemia.
Jorge Aragão já lançou mais de 20 discos, com discografias que chegam a mais de 30 álbuns, incluindo os de estúdio e gravações ao vivo
Em 2016, os quarenta anos de carreira de Aragão foram celebrados com o projeto "Samba Book", da Musickeria, um box reunindo biografia, DVD e CDs e partituras. No ano seguinte, o projeto foi indicado ao Grammy Latino de 2017 de Melhor Álbum de Samba/Pagode.
É casado com Fátima Santos e tem duas filhas, Tânia e Vânia Aragão. Suas filhas foram homenageadas em algumas de suas composições, como "Coisinha do Pai", para Vânia, e "Claridade", para Tânia.