A Justiça de São Paulo determinou a penhora dos valores que o cantor Netinho de Paula vier a receber em direitos autorais, como forma de quitar uma dívida que se arrasta há mais de dez anos.

O montante, atualizado até julho de 2025, é de R$ 114.869,58, e deverá ser depositado em juízo pela Associação Brasileira de Música e Arte, a Abramus.

A medida atende à ação movida por Maria da Graça Cunha, que processou o artista por danos morais após ter sido exposta durante uma edição do programa “Domingo da Gente”, exibido pela Record TV no início dos anos 2000.

O processo foi aberto em 2001, depois que a participante alegou ter sido constrangida por Netinho em rede nacional. Ela havia procurado o programa em busca de ajuda financeira para custear o tratamento da irmã, que precisava de um transplante renal.

Durante a atração, o apresentador tentou persuadi-la a doar um de seus rins à irmã. Maria da Graça recusou, explicando que não poderia se afastar do trabalho nem desistir de um concurso público para o qual estava inscrita - caso aprovada, ela ganharia um salário mensal de cerca de R$ 700 na época.

A insistência de Netinho, que chegou a chorar, acabou repercutindo de forma negativa para a convidada, que afirmou ter sido hostilizada após a exibição do quadro. Nos autos do processo, consta que Maria da Graça acabou cedendo à pressão e realizou a doação do rim, o que a impediu de participar do concurso e resultou na perda do emprego.

A 23ª Vara Cível de São Paulo considerou a ação parcialmente procedente e fixou a compensação em R$ 15 mil. Na sentença, o juiz observou que a forma como o programa foi conduzido acabou expondo a participante a uma situação humilhante e de julgamento público, ferindo sua reputação e dignidade.

Em 2022, diante do não pagamento da indenização, os direitos autorais de Netinho sofreram o primeiro bloqueio judicial. O artista voltou a recorrer, mas, dois anos depois, a dívida atingiu R$ 163 mil, levando à apreensão de seu passaporte. Parte do valor foi quitada com a penhora, mas ainda resta um saldo pendente.

José de Paula Neto, mais conhecido como Netinho de Paula, nasceu em 11 de julho de 1970, na cidade de São Paulo.

Desde jovem, Netinho enfrentou dificuldades econômicas. Com apenas sete anos, ele trabalhou vendendo doces em trem na cidade de Carapicuíba como forma de complementar a renda da família.

A sua carreira artística começou em 1986, integrando o grupo de pagode Negritude Júnior, formado no conjunto habitacional onde residia.

Como vocalista, ajudou a emplacar sucessos como “Cohab City” e “Tanajura” e contribuiu para a projeção nacional do conjunto na década de 1990.

Em 2001, Netinho de Paula deixou o Negritude Júnior para seguir carreira solo e, ao mesmo tempo, deu início também à sua atuação como apresentador de televisão.

Foi na Record TV que ele ganhou destaque com o programa “Domingo da Gente”, que foi ao ar entre 2001 a 2006. Na atração, ele comandou quadros como “Um Dia de Princesa”, com forte apelo social em comunidades periféricas.

Mais adiante, ele comandou atrações como “Show da Gente”, no SBT, “Programa da Gente”, na RedeTV!, “Brasil da Gente”, na Band, e o “É da Gente” na RedeTV - alternando projetos e mudanças de emissora conforme o contexto da mídia.

Sua incursão na política ocorreu em 2008, quando foi eleito vereador de São Paulo pelo PCdoB, obtendo 84.406 votos e figurando entre os mais votados. Em 2012, obteve reeleição para o mesmo cargo. Com o êxito eleitoral, também esteve entre os pré-candidatos a prefeito de São Paulo, mas desistiu da disputa.

Além da música, da TV e da política, Netinho sempre manteve envolvimento com projetos sociais. Entre eles destaca-se a Casa da Gente, uma iniciativa originada na comunidade de onde ele veio, que oferece suporte educativo, musicalização, oficinas culturais e atendimento a jovens e famílias.

Sua discografia inclui lançamentos solo e coletâneas ao vivo, bem como projetos que celebram sua trajetória e os 30 anos de ligação com o Negritude Júnior.

Em sua trajetória, Netinho de Paula esteve no centro de algumas polêmicas. Em fevereiro de 2005, o cantor foi acusado de agredir sua então esposa, Sandra Crunfli. Na época, fotos com a decoradora de olhos roxos tiveram grande repercussão.

Em 20 de novembro do mesmo ano, durante o Troféu Raça Negra, em São Paulo, o artista agrediu o humorista Rodrigo Scarpa, o Vesgo, integrante do programa Pânico na TV, após ter se irritado com uma pergunta de tom provocativo feita pelo repórter. O caso terminou com uma condenação judicial, que obrigou Netinho a pagar indenização de R$ 44.670,00 ao comediante.

Netinho tem sete filhos. Uma curiosidade de sua vida amorosa é que ele teve um relacionamento de quatro com anos com a atriz Taís Araújo, na década de 1990.