Uma nova lei que proíbe o consumo de carne de cachorro até 2027 na Coreia do Sul foi festejada por ambientalistas. Mas virou uma dor de cabeça para os criadores.
Muitos relatam dificuldades para vender ou doar os animais. Os abrigos estão superlotados e a dificuldade é especialmente grande com relação às raças consideradas mais agressivas.
O governo sul-coreano descartou a hipótese de eutanásia dos animais e disse que vai investir pesado na criação de abrigos públicos.
Toda a polêmica começou depois de um aumento significativo de campanhas em prol dos direitos dos animais e preocupações sobre a reputação internacional da Coreia do Sul. Os parlamentares, então, aprovaram o texto e deram um prazo para que a indústria e os trabalhadores busquem alternativas.
Criadores de cães ficaram revoltados porque perdem seu negócio. Segundo a agência estatal Yonhap, 1.150 fazendas fazem criação de cães, na Coreia do Sul. Além disso, cerca de 30 açougues, mais de 200 distribuidores e 1.600 restaurantes vendiam alimentos produzidos com carne de cachorro.
Um líder de uma associação de agricultores expressou sua frustração com o projeto e disse se tratar de uma clara interferência do Estado, pois ‘limita a liberdade de escolha na profissão’.
De acordo com o governo, pessoas que trabalham nesse tipo de indústria receberão subsídios do governo para conseguir novos empregos. A lei prevê a punição de infratores com pena de dois anos de prisão ou multa equivalente a R$ 110 mil.
O hábito de comer carne de cachorro já vinha diminuindo, na Coreia do Sul, nas últimas décadas. É uma tradição que costuma ser mantida por famílias que têm pessoas mais idosas.
Uma pesquisa divulgada pelo grupo Animal Welfare Awareness apontou que mais de 90% dos entrevistados não comeram carne de cachorro em 2024 nem pretendiam consumir produtos oriundos de carne de cão no futuro.
No entanto, pesquisas também apontaram que um em cada três sul-coreanos ainda se mostram contrários à proibição, mesmo que não consumam essa carne, pois acham que deve haver liberdade de escolha.
O debate sobre uma eventual proibição vinha ganhando força desde 2021, quando o então presidente Moon Jae-in sugeriu o fim dessa indústria. O apoio ao projeto cresceu com o atual presidente, Yoon Suk-yeol, que adotou seis cães e oito gatos.
A Coreia do Sul é considerada uma das poucas nações com fazendas em escala industrial. Algumas propriedades chegam a ter mais de 500 cães para o abate!
Em agosto de 2023, uma campanha contra o consumo de carne ganhou o apoio da então primeira-dama sul-coreana, Kim Keon Hee.
Mas agora a lei torna ilegais o abate, a criação, o comércio e a venda de carne de cachorro para consumo humano, com pena de 2 a 3 anos de prisão para quem violar essas regras.
"Esta lei visa a contribuir para a realização dos valores dos direitos dos animais, que buscam o respeito à vida e uma coexistência harmoniosa entre humanos e animais", diz um trecho do texto.
A carne de cachorro é consumida em outros países da Ásia, como Vietnã, Indonésia, China e Coreia do Norte, além de algumas nações africanas como Congo, Gana, Nigéria e Camarões.
Em 2023, as autoridades da Indonésia anunciaram o fim do abate de cães e gatos no mercado de animais Tomohon Extreme Market, localizado na ilha de Sulawesi.
Essa decisão foi tomada após uma campanha de vários anos liderada por ativistas locais e apoiada por celebridades em todo o mundo.