Nos momentos que antecederam a extinção da TV Tupi, uma das mais tradicionais da história desse meio de comunicação no Brasil, um fato chamou a atenção. Uma novela de relativo sucesso que foi tirada do ar quando faltavam apenas 20 capítulos.

Trata-se da obra de dramaturgia intitulada de "Como Salvar Meu Casamento", escrita pelo trio Edy Lima, Ney Marcondes e Carlos Lombardi, que estreou em 26 de junho de 1979.

Na trama, que foi ao ar na reta final da história da Tupi, Dorinha, interpretada por Nicette Bruno, e Pedro, por Adriano Reys, eram os protagonistas. Era um típico casal de classe média que vivia uma crise no matrimônio após 23 anos.

Tudo se transforma quando ele se apaixona por uma mulher mais moça, a bela Branca. Pedro resolve abandonar seu lar para viver com a amante, mas se frustra ao não encontrar em Branca os mesmos valores de Dorinha.

No entanto, no dia 13 de fevereiro de 1980, sem aviso prévio, a Tupi demitiu todo o elenco do departamento de teledramaturgia e encerrou as produções "Como Salvar Meu Casamento", "Drácula" e "Maria Nazaré", que seria a próxima obra da emissora.

“É inexplicável, estranhíssimo, que façam isso com uma novela que está no fim e fazendo sucesso. Em termos mais amplos, considero essa decisão uma coisa gravíssima para o artista brasileiro, especialmente vindo daquela que foi a pioneira da televisão", declarou Edy.

“A Tupi foi ótima enquanto durou, mas, no momento, não se pode fazer nada por ela. Aquilo tudo foi muito duro, gerou problemas sociais grandes, com o desemprego de muita gente", disse Nicette Bruno em 1980.

De acordo com a matéria da Folha de São Paulo de 14 de fevereiro de 1980, Edy Lima contou como seria o final da trama. “Essa interrupção abrupta e intempestiva impedirá que se veja a evolução do Pedro, que iria acontecer justamente nesses 20 capítulos finais", frisou.

Afinal, Pedro ficaria com Dorinha, enquanto Silvia, interpretada por Beth Goulart, terminaria com Melão, conduzido por Kito Junqueira. Por outro lado, Paula, de Wanda Stefânia, se separaria de Nando, do ator Jacques Lagoa.

“Apesar dos pesares, creio que preenchemos nosso objetivo, que era o de mostrar uma novela sem mordomos nem mansões. Isto é, uma faixa significativa da classe média e de seus problemas nessa época de transição", completou.

Curiosamente, em 1995, Globo e SBT chegaram a brigar pelos direitos da novela para fazer uma nova versão, o famoso remake. Contudo, ambas as emissoras desistiram da empreitada e os projetos foram devidamente engavetados.

A decisão repentina da emissora em retirar a novela do ar gerou revolta por parte do público que a acompanhava. Também não houve condições da continuação em outro momento, pois a TV Tupi estava com os dias de sua concessão contados.

Em 2023, o próprio Carlos Lombardi ofereceu a sinopse atualizada e mais enxuta, com cerca de 80 capítulos, para o streaming "Globo Play". Todavia, a ideia do novo projeto não saiu do papel ou teve a chance de ser um novo conteúdo do serviço.

Além dos protagonistas, outros consagrados atores participaram do elenco. Entre eles, estão Elaine Cristina Jacques Lagoa, Wanda Stefânia, Beth Goulart, Kito Junqueira, Paulo Guarnieri, Ariclê Perez e o também cantor Agnaldo Rayol.

Os temas centrais da novela foram a crise conjugal e a dificuldade de comunicação entre os casais. Além da busca pela felicidade e realização pessoal dentro ou fora do casamento e por soluções para os problemas do matrimônio, como terapia ou diálogo.

Entre os autores, Carlos Lombardi fez muito sucesso na TV Globo, sobretudo nos anos 1990 e 2000. Ele, então, emplacou obras como "Quatro por quatro", "Uga, Uga", "O quinto dos infernos", 'Kubanacan " e" Pé na Jaca".

Nicette Bruno se destacava por suas interpretações em diversas novelas e peças teatrais, sendo reconhecida por sua versatilidade e talento. Ela morreu em 20 de dezembro de 2020, aos 87 anos, vítima de complicações da COVID-19, após um mês internada.

A artista também construiu uma história de amor marcante com o ator Paulo Goulart, com quem foi casada por 56 anos. Eles tiveram três filhos: Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho, todos também atores.

Nicette atuou em inúmeras novelas, como "Éramos Seis", nas versões na Tupi e na Globo. Ela também esteve em "Bebê a Bordo", "Rainha da Sucata", "Mulheres de Areia", "A Próxima Vítima", "Alma Gêmea", "Pega Pega", entre outras.

Adriano Reys nasceu em Vila do Conde, Portugal, mas se naturalizou brasileiro e mudou-se para o Brasil ainda jovem. Por aqui, sua estreia como ator foi em 1953, com o filme "Os Três Recrutas" e, em seguida, emendou mais de 20 obras cinematográficas.

Iniciou sua carreira na televisão em 1961, na novela "Adeus às Armas" da TV Tupi. Ao longo de cinco décadas, participou de obras consagradas como "Pigmalião 70", "Ciranda de Pedra", "Sétimo Sentido", "Ti Ti Ti", "Barriga de Aluguel" e "Mulheres de Areia"

Adriano Reys lutou contra um câncer no fígado e no peritônio por três anos. Ele chegou a ficar internado no hospital por 15 dias antes de morrer, no dia 20 de novembro de 2011, no Rio de Janeiro.

Filha dos atores Nicette Bruno e Paulo Goulart, Beth Goulart já nasceu atrelada ao universo artístico. Começou a carreira nos anos 1970, estudando também balé e canto lírico, mas enveredou para o teatro e também estava no elenco da novela da Tupi.

Agnaldo Rayol teve uma carreira marcante tanto como cantor quanto como ator. O artista foi galã de novelas nas décadas de 1960 e 1970 em produções como "Mãe", "O Caminho das Estrelas", "A Última Testemunha", "As Pupilas do Senhor Reitor" e "Os Imigrantes".

Walmor Chagas teve uma carreira que abrangeu teatro, televisão e cinema, com destaque para trabalhos como "São Paulo S/A", "Luz del Fuego" e novelas como "Vereda Tropical", "Locomotivas" e "Os Maias". Foi casado com Cacilda Becker e morreu em 2013.