Uma profecia originada da história de um mangá tem desencadeado uma onda de cancelamento de viagens no Japão.

Trata-se da obra "The Future I Saw" ("O Futuro que Vi", em português), da artista japonesa Ryo Tatsuki.

A história, lançada há mais de 20 anos, ganhou notoriedade após supostamente "prever" o terremoto seguido de tsunami de março de 2011, que causou milhares de mortes e o desastre nuclear de Fukushima.

Em 2021, Tatsuki lançou uma versão atualizada do mangá, que indica um novo "grande desastre" para 5 de julho de 2025, o que tem causado alvoroço nas redes sociais.

A onda de boatos foi reforçada por supostos videntes e interpretações equivocadas de alertas oficiais sobre a Fossa de Nankai.

Segundo as autoridades japonesas, há 80% de chance de um terremoto de grandes proporções acontecer nessa fossa dentro dos próximos 30 anos.

O medo gerado por essa “profecia” resultou em cancelamentos em massa de viagens para o Japão, afetando muitos turistas.

Pessoas que vinham de Hong Kong, China, Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia e Vietnã foram as mais afetadas.

Dados de agências de turismo mostram que as reservas de Hong Kong para o Japão caíram 50% no período da Páscoa e 83% para viagens entre o fim de junho e início de julho.

A Hong Kong Airlines chegou a cancelar voos, enquanto outras companhias aéreas ofereceram remarcações para outros destinos.

Em uma entrevista, o diretor da Agência Meteorológica do Japão disse que as pessoas são “influenciadas por informações sem fundamento" e classificou o ocorrido como "lamentável".

Já o governador de Miyagi, Yoshihiro Murai, fez questão de rechaçar os rumores: “É um problema sério quando superstições afetam o turismo.”

Questionada sobre o pânico gerado, a criadora do mangá afirmou que vê com "positividade" sua obra alertar as pessoas sobre desastres.

Por outro lado, na mesma entrevista, ela pediu para que as pessoas sejam racionais, seguindo a ciência e as orientações oficiais.

Os mangás têm origens que remontam ao século 12, com os "rolos ilustrados", chamados de "emaki".

O formato moderno surgiu no pós-Segunda Guerra Mundial, influenciado pelos quadrinhos ocidentais.

Osamu Tezuka, considerado o "pai dos mangás", revolucionou o gênero com obras como "Astro Boy", introduzindo narrativas cinematográficas e expressões dramáticas.

Ao longo das décadas, os mangás se tornaram parte essencial da cultura japonesa, abordando temas diversos como aventura, romance, esportes, política, religião, ficção científica e cotidiano, para públicos de todas as idades.

A influência dos mangás extrapolou o papel impresso, alcançando o cinema, o teatro, a moda e a indústria dos animes.

Até hoje, os mangás continuam a moldar tendências e a refletir questões sociais, mantendo relevância tanto no Japão quanto no resto do mundo.