Um novo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 13 de outubro ligou um alerta para o avanço preocupante da resistência antimicrobiana (RAM).
Essa é uma condição na qual as bactérias e outros microrganismos deixam de responder a antibióticos.
Segundo o órgão, a RAM se tornou uma das dez maiores ameaças à saúde global atualmente.
De acordo com o documento, 1 em cada 6 infecções bacterianas comuns em 2023 foi resistente a tratamentos, um aumento de mais de 40% entre 2018 e 2023.
O problema compromete a eficácia dos medicamentos e aumenta o risco de mortes.
O estudo foi feito com base em dados do Sistema Global de Vigilância da OMS (GLASS), que reúne informações de mais de 100 países.
Foram avaliados 22 antibióticos e 8 tipos de bactérias responsáveis por infecções como as do trato urinário, gastrointestinal, corrente sanguínea e gonorreia.
“A resistência antimicrobiana está superando os avanços da medicina moderna, ameaçando a saúde das famílias em todo o mundo", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
"Devemos usar antibióticos de forma responsável e garantir que todos tenham acesso aos medicamentos corretos, diagnósticos com qualidade assegurada e vacinas”, acrescentou ele.
As maiores taxas de resistência foram registradas nas regiões do Sudeste Asiático e em parte do Mediterrâneo.
Nesses locais, 1 em cada 3 infecções não responde aos tratamentos. Na África, a proporção é de 1 em cada 5 casos.
O relatório destaca que as bactérias gram-negativas, como a E. coli e a K. pneumoniae, são as mais perigosas atualmente, sendo responsáveis por infecções graves na corrente sanguínea.
Mais de 40% das infecções com essas bactérias já são resistentes a cefalosporinas de 3ª geração, principais antibióticos usados nesses casos.
Na África, esse percentual é ainda mais alarmante, chegando a 70% dos casos.
Além disso, o documento reforçou que tem crescido a resistência a medicamentos essenciais, como carbapenêmicos e fluoroquinolonas.
Essa situação força o uso de antibióticos caros e de difícil acesso, chamados de "de última linha", sobretudo em regiões mais pobres.
O monitoramento ainda é um desafio. Embora o número de países participantes do sistema GLASS tenha aumentado de 25 em 2016 para 104 em 2023, quase metade ainda não envia dados e muitos não têm infraestrutura laboratorial adequada.
Em 2024, a OMS pediu para que os países fortaleçam a vigilância e adotem a abordagem de “saúde única”, coordenando os setores humano, animal e ambiental.
A preocupação não é a toa. Uma análise de 2019 estimou que as superbactérias foram responsáveis diretas por 1,27 milhão de mortes e indiretamente associadas a 4,95 milhões de óbitos.
As projeções indicam que as mortes diretas por superbactérias podem chegar a 1,9 milhão anualmente até 2050.