
O novo filme da diretora Kathryn Bigelow, "Casa de Dinamite", alcançou o topo do ranking na Netflix, mas causou desconforto no Pentágono.
O longa é centrado em um ataque nuclear fictício contra os Estados Unidos e mostra como as autoridades lidam com o problema em 18 minutos.
Uma das reclamações do Pentágono foi a de que eles não foram consultados para garantir a precisão de algumas informações técnicas exibidas na tela.
Bigelow, que já venceu o Oscar pelo filme "Guerra ao Terror", de 2008, afirmou que o filme busca realismo e autenticidade, mesmo sendo ficção.
"Você está convidando o público para a sala de controle do Comando Estratégico dos Estados Unidos. É um lugar de difícil acesso, então você quer que seja autêntico e honesto. Esse é o meu objetivo, e acho que o alcançamos", disse ela em entrevista ao Hollywood Reporter.
Uma das principais divergências entre o filme e o Pentágono envolve a eficiência dos artefatos de interceptação de mísseis.
Segundo documentos obtidos pela Bloomberg, o Pentágono criticou cenas em que personagens afirmam que o sistema antimísseis dos Estados Unidos tem apenas 50% ou 61% de eficácia.
Em uma das cenas, o secretário de Defesa, interpretado pelo ator Jared Harris, critica o fato do sistema ter custado US$ 50 bilhões e ter uma chance de sucesso de apenas 50%.
A Agência de Defesa Contra Mísseis (MDA) rebateu dizendo que os sistemas atuais teriam 100% de precisão em testes recentes.
Segundo o órgão, o modelo referenciado no filme diz respeito a um sistema antigo, que não é mais usado pelos Estados Unidos.
Em outro momento da trama, o vice-assessor de segurança nacional, vivido pelo ator Gabriel Basso, comenta que o índice de sucesso é de 61%.
O roteirista do filme, Noah Oppenheim, se explicou dizendo que usou dados de cenários controlados e que especialistas consultados consideraram os 61% uma estimativa até otimista.
"Como mencionamos no filme, há menos de 50 desses interceptores terrestres em nosso arsenal, então, mesmo que funcionassem perfeitamente, não temos muitos disponíveis para uso", disse ele à revista The Atlantic.
Especialistas independentes entrevistados pela rádio NPR reconheceram que o filme tem elementos exagerados, como a ideia de um ataque nuclear repentino em um dia aparentemente tranquilo, sem contexto de conflito.
"Os verdadeiros perigos de uma guerra nuclear têm a ver principalmente com a escalada de uma crise não nuclear que evolua para um conflito armado", explicou Matthew Bunn, especialista em questões nucleares na Escola Kennedy de Harvard.
Além disso, no filme o sistema de defesa do Alasca dispara apenas dois interceptores contra o míssil, quando, na realidade, seria mais provável disparar quatro ou mais para aumentar as chances de acerto.
Apesar das críticas, o filme foi elogiado pela sua precisão visual e procedimental.
Especialistas apontaram que as representações das salas de comando, da Sala de Situação da Casa Branca e do centro subterrâneo do STRATCOM são extremamente fiéis à realidade.
A presença da famosa “bola de futebol” — pasta que acompanha o presidente com opções de retaliação em casos de ataque nuclear — também recebeu elogios do pesquisador Stephen Schwartz.