
No Carnaval carioca de 2026, a Unidos de Vila Isabel levará para a avenida o enredo “Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um Sambista Sonhou a África”.
O tema presta homenagem a Heitor dos Prazeres, artista que marcou a história do samba e da cultura popular brasileira.
Segundo a escola, a proposta é oferecer um desfile “com as tintas do pertencimento”, exaltando a ancestralidade e a força criativa negra que moldaram o samba carioca.
A escolha de Heitor dos Prazeres vai além de uma simples homenagem biográfica. A Vila Isabel pretende mergulhar no universo poético e onírico do artista.
A ele é atribuída a criação das expressões “Pequena África” e “África em miniatura” para designar a região da antiga Praça Onze - berço do samba urbano e de manifestações culturais emblemáticas, como os terreiros de Tia Ciata e a Pedra do Sal.
Por isso, foi justamente na Pedra do Sal que a Vila Isabel realizou, em maio de 2025, o evento de lançamento do enredo, reforçando o elo simbólico entre o passado e o presente do samba.
A expressão “Macumbembê, Samborembá” foi inspirada na canção “Tia Chimba”, uma embolada composta por Heitor dos Prazeres em parceria com Paulo da Portela.
Heitor dos Prazeres nasceu em 23 de setembro de 1898, período em que o Brasil ainda vivia os primeiros anos após a abolição da escravatura. Multifacetado, foi compositor, músico e artista plástico, além de ter exercido ofícios como sapateiro, alfaiate, jornaleiro e marceneiro.
Filho de uma família em que a música fazia parte do cotidiano, começou desde muito jovem a frequentar as lendárias rodas de Tia Ciata, ponto de encontro de nomes fundamentais do samba.
Lá conviveu com mestres como João da Baiana, Pixinguinha, Donga, Cartola, Sinhô e Hilário Jovino Ferreira, o Lalau de Ouro, seu tio, que lhe presenteou com o primeiro cavaquinho.
Entre as inúmeras composições que assinou, destaca-se “Pierrot Apaixonado”, parceria com Noel Rosa, que se transformou em uma das marchinhas mais conhecidas da história do Carnaval brasileiro.
Apaixonado pela festa, Heitor teve papel importante na fundação de diversas escolas de samba, entre elas Mangueira e Portela, e ajudou a construir as bases do que viria a ser o desfile das agremiações na Marquês de Sapucaí.
Na década de 1930, Heitor consolidou-se como músico e se apresentou no prestigiado Cassino da Urca, ao lado de artistas como o ator Grande Otelo e a cantora norte-americana naturalizada francesa Josephine Baker.
Josephine Baker o apresentou ao cineasta Orson Welles, vencedor do Oscar por “Cidadão Kane”, que o contratou para colaborar em um projeto cinematográfico sobre o samba e o Carnaval.
Além de músico consagrado, Heitor dos Prazeres teve uma trajetória notável nas artes plásticas.
Suas obras vibrantes, que retratavam o cotidiano das comunidades e a alegria popular, foram premiadas e exibidas em importantes museus e exposições nacionais e internacionais.
Em 1943, durante uma mostra beneficente em Londres, a então princesa e futura rainha Elizabeth II encantou-se com sua obra “Festa de São João” e a adquiriu, gesto que projetou ainda mais o nome do artista.
Com talento múltiplo e espírito criador, Heitor dos Prazeres eternizou, em sons e cores, a alma do samba e o pulsar da cultura afro-brasileira.