O Brasil está passando por uma seca sem precedentes. A pior de sua história recente, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden).
A umidade relativa do ar em diversas cidades brasileiras chegou a níveis inferiores aos do deserto do Saara, com algumas localidades chegando a registrar índices próximos aos do deserto do Atacama (o mais seco do mundo).
No Distrito Federal, por exemplo, a umidade relativa do ar nesta terça-feira (03/09) caiu a 7%, às 16h, tornando este o dia mais seco da história da região, segundo o Inmet.
A Organização Mundial da Saúde alerta que a umidade ideal para o organismo humano está entre 40% e 70%. Níveis abaixo de 30% representam um risco à saúde.
Ainda de acordo com o Inmet, não chove há 134 dias no DF — a última chuva foi registrada em 23/04/24.
A principal causa da seca no DF foi um incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona), que começou nesta terça-feira (03/09). Há suspeita de que tenha sido um ato criminoso. Cerca de 1,2 mil hectares foram atingidos até o fim da tarde.
Os dados sobre a seca abrangem registros desde 1950, e a série histórica mostra que a situação se agravou de 1988 para cá.
Neste momento, a seca atinge praticamente todo o território brasileiro, com exceção do Rio Grande do Sul.
A falta de chuva está causando graves danos à vegetação e levando à seca de rios em uma área muito maior do que em eventos anteriores.
Esse cenário é motivo de preocupação, pois pode desencadear uma série de efeitos negativos na economia do país.
A terra seca e os níveis baixos dos rios afetam tanto as colheitas agrícolas quanto a geração de energia elétrica, além de impactar os custos dos combustíveis e o transporte de mercadorias.
Os especialistas dizem que essa combinação de fatores afeta diretamente nas finanças dos brasileiros, especialmente os mais vulneráveis.
O aumento nos custos de produção de alimentos e nas despesas das empresas por todo o país resulta em um encarecimento de itens básicos do dia a dia.
Em 2021, a seca levou a um aumento de 21,21% na tarifa de energia elétrica residencial, tornando-se o segundo maior fator de impacto na inflação oficial do país, ficando atrás apenas da gasolina, que registrou uma alta de 47,49%.
Em setembro, a previsão é que a tarifa da conta de luz já será alterada para a "vermelha patamar 2", que acrescenta R$ 7,88 a cada 100 quilowatt-hora (kWh).
Como as hidrelétricas são a principal fonte de energia do Brasil, a falta de água para gerar eletricidade força o uso de outras fontes mais caras, como as termelétricas.
Em agosto de 2021 — época de crise hídrica — a situação chegou a um ponto que a Aneel precisou criar a bandeira "escassez hídrica", que era ainda mais cara do que a bandeira vermelha.
Ao g1, o engenheiro e presidente do Grupo Lux Energia, Gustavo Sozzi, salientou que a perspectiva para os próximos meses não é boa. Segundo ele, mesmo que chova em outubro, a estiagem prevista para setembro já é considerada crítica.
Outra preocupação é com o setor agrícola. A menor oferta de produtos agrícolas está gerando um aumento nos preços dos alimentos, impactando o bolso dos consumidores.
Os pequenos agricultores, que não possuem sistemas de irrigação, são os mais afetados pela seca.
A seca também interfere no escoamento da produção industrial da Zona Franca de Manaus, afetando a oferta de produtos como eletrônicos, insumos industriais, motopeças e autopeças no restante do país.
Isso porque a menor disponibilidade de transporte fluvial gera um "estresse na cadeia logística", com menor oferta de alguns produtos e possíveis pressões inflacionárias de curto prazo.
Além de tudo isso, a combinação de calor e baixa umidade afeta duramente a saúde, causando problemas respiratórios, cansaço, dor de cabeça e irritação nas vias aéreas. Pessoas com doenças respiratórias crônicas são as mais afetadas.
Beber bastante água, manter a casa livre de poeira e evitar a prática de exercícios físicos das 11h às 17h são algumas das dicas para amenizar os efeitos da baixa umidade aliada ao calor excessivo.