A natureza é fascinante e possui peculiaridades que chamam a atenção. Afinal, nela, existe um fruto que mascara sabores ácidos e amargos em doces. Trata-se da fruta-do-milagre, que contém em suas propriedades uma substância chamada miraculina.
A fruta-do-milagre (Synsepalum dulcificum) foi descoberta no século XVIII pelo explorador francês Chevalier des Marchais, que observou como nativos africanos a utilizavam para adoçar alimentos.
Muito consumida por populações nativas iorubás, a fruta e seu princípio ativo começaram a se popularizar nas Américas e na Europa a partir dos anos 1980.
Assim, a miraculina foi isolada pela primeira vez em 1968 pelo pesquisador japonês Kenzo Kurihara. A partir disso, diversos estudos foram conduzidos para entender sua estrutura e propriedades.
Esses estudos revelaram que a miraculina não é doce em si, porém altera a percepção do sabor através da ligação com os receptores gustativos.
Na África Ocidental, a fruta-do-milagre é utilizada há séculos na medicina tradicional e para melhorar o sabor de alimentos e bebidas, como vinho de palma e pão de milho.
O cultivo da miraculina tem se tornado cada vez mais popular, especialmente entre entusiastas de plantas exóticas, devido aos benefícios e à curiosidade em torno de seu efeito no paladar.
Pesquisadores têm estudado a miraculina como uma possível alternativa aos adoçantes artificiais, especialmente para pessoas com restrição de açúcar ou diabetes.
Quando uma pessoa mastiga o fruto, essas moléculas acabam se aderindo às papilas gustativas da língua, o que gera um efeito temporário para impedir a percepção de sabores amargos.
Segundo estudos, a duração desse efeito varia de acordo com cada pessoa. Algo que depende da sensibilidade à miraculina e da produção de saliva, que acaba eliminando a molécula da boca.
O nome fruta-do-milagre está estritamente relacionado a essa característica, de acordo com a doutora em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Julie Henriette Antoinette Dutilh.
Por outro lado, é preciso ter cuidados quanto ao consumo desta fruta. Ela não costuma causar problemas, mas suas as folhas, o caroço e a semente são conhecidas por provocar reações alérgicas e queimaduras nas mucosas da boca e faringe.
Assim, tem que ter cuidado para só morder a parte carnosa dela. Mesmo com essa atenção, é preciso procurar um serviço de emergência se sentir alguma reação inesperada.
Por afetar a respiração, um choque anafilático pode levar à morte se não for tratado de imediato. Por esse motivo, o consumo deste fruto deve ter cuidados especiais.
A assistente de direção do programa "Mais Você", da TV Globo, Maria Lígia Bedini, teve um choque alérgico ao entrar em contato com o caroço do alimento.
"Quando mordi o caroço, senti um gosto muito amargo, um fel na boca. Cuspi e, não contente, provei outra. E comecei a falar: 'estou me sentindo mal'. Fechou a glote. Foi uma sensação horrorosa. Fui para a ambulância e para o hospital", relatou.
Apesar de ser uma planta tropical, ela pode ser cultivada com sucesso no Brasil, tanto em jardins quanto em vasos, desde que alguns cuidados específicos sejam seguidos.
É uma planta que gosta de clima quente e úmido, típico de regiões tropicais e subtropicais. Ela, então, prefere temperaturas entre 20°C e 30°C, não tolerando geadas ou frio intenso.
Dessa forma, o local ideal para o plantio deve receber luz solar direta por pelo menos 4 a 6 horas por dia. No entanto, esta planta também aprecia alguma sombra parcial nas horas mais quentes, mas ventos muito fortes podem quebrar seus galhos frágeis.
Nesse mesmo sentido, o solo precisa ser ácido, com pH entre 4,5 e 5,8, além de bem drenado e rico em matéria orgânica.
A melhor época para o plantio da miraculina é na primavera e no verão, quando as temperaturas são mais altas, favorecendo o enraizamento e o desenvolvimento da muda.
Com polpa branca, os frutos são vermelhos, medindo de 13 a 26 de comprimento, com forma alongada e semelhante a de um ovo.
Um estudo com camundongos destacou que a planta pode trazer benefícios à saúde. Entre eles, reduzir o estresse metabólico relacionado a condições como obesidade, síndrome metabólica, diabetes e câncer.
Pode ser utilizada como uma ferramenta para pessoas em tratamento de quimioterapia, que frequentemente apresentam alterações no paladar.