Tristão da Cunha, um arquipélago ultramarino britânico isolado no sul do Oceano Atlântico, enfrenta um desafio que mistura sobrevivência econômica, identidade cultural e preservação ambiental.

Com pouco mais de 200 habitantes atualmente, o arquipélago é o território habitado mais remoto do mundo.

O sustento de Tristão da Cunha depende quase que exclusivamente da lagosta-de-são-paulo - Jasus paulensis -, crustáceo cujas populações são encontradas apenas em regiões remotas do sul oceânico.

A lagosta-de-são-paulo é uma espécie endêmica e de alto valor comercial, cuja captura é rigidamente controlada para evitar a sobre-exploração.

A pesca da lagosta ocorre apenas em determinados períodos - entre 18 e 72 dias por temporada - por conta do clima, das condições do oceano e da necessidade de preservar os estoques.

Por isso, cada oportunidade de pesca é vital. Decisões do passado, como a pesca excessiva e a captura de lagostas jovens ou fêmeas com ovos, já haviam levado a reduções significativas na população desses crustáceos.

Para evitar que o esgotamento da lagosta comprometa não apenas o ecossistema marinho, mas também a própria economia local, os moradores de Tristão da Cunha têm adotado um conjunto de medidas rigorosas de gestão pesqueira.

Em 2019, foi oficializado um plano construído com participação da comunidade, do governo local, de operadores da pesca e de cientistas.

Esse plano resultou na criação de uma Área Marinha Protegida que cobre cerca de 687 mil quilômetros quadrados - quase toda a Zona Econômica Exclusiva do arquipélago - onde 91% das águas estão fechadas para pesca comercial.

Apenas uma porção costeira restrita permanece aberta para pesca da lagosta, sujeita a cotas, limites de tamanho e monitoramento rigoroso.

O monitoramento é reforçado por tecnologia. Satélites são usados para fiscalizar embarcações que descumpram regras ou adentrem zonas proibidas. Sistemas automáticos de identificação permitem rastrear navios suspeitos por trajetos ou comportamentos atípicos.

Além da pesca, a comunidade mantém uma profunda relação cultural com o mar. Famílias formam gerações de pescadores, e práticas e crenças se entrelaçam com o calendário das temporadas de lagosta. A pesca não é só uma fonte de renda, mas também parte do modo de vida local.

O objetivo é claro: garantir que a lagosta-de-são-paulo continue sendo exportada para mercados como os Estados Unidos, Japão e Reino Unido, mas de modo que haja estoque para as próximas gerações.

Localizado a mais de 2,4 mil quilômetros da África do Sul, Tristão da Cunha é considerado o território habitado mais isolado do mundo.

Os seus pouco mais de 200 habitantes estão reunidos na vila Edimburgo dos Sete Mares, onde a vida é marcada pela cooperação comunitária e pelo isolamento quase absoluto.

Sem aeroporto e com acesso apenas por longas viagens de navio, os habitantes mantêm tradições, cultivam alimentos e dividem recursos para enfrentar os desafios de viver em meio ao Atlântico Sul.

Tristão da Cunha é um território ultramarino britânico, administrado como parte de Santa Helena, Ascensão e Tristão da Cunha.

Embora esteja a milhares de quilômetros da Europa, a ilha mantém laços políticos e administrativos com o Reino Unido, que garante defesa, relações exteriores e parte do apoio financeiro.

A comunidade local possui um conselho eleito que trata de assuntos internos, mas decisões estratégicas dependem do governo britânico.

A moeda oficial é a libra esterlina, e a cidadania britânica assegura aos moradores direitos semelhantes aos de outros súditos do Reino Unido.

Essa relação de dependência garante estabilidade política e respaldo internacional ao arquipélago, mas também reforça sua condição de isolamento, já que a distância e a logística dificultam o acesso regular a serviços e suprimentos vindos da metrópole.