Woody Allen prestou uma tocante homenagem à atriz Diane Keaton, morta em 11/10/2025 aos 79 anos, relembrando o impacto dela em sua vida e carreira. “Nunca li uma crítica sobre meu trabalho e só me importava o que Keaton tinha a dizer”, escreveu o cineasta americano.
Em ensaio publicado no site "The Free Press", ele a descreveu como “encantadora, linda e mágica”, confessando que se apaixonou à primeira vista. A parceria começou em 1969 e rendeu filmes marcantes como "O Dorminhoco e Interiores". Allen afirmou que o sorriso de Keaton iluminava qualquer lugar.
Ele relembrou a timidez dos dois no início da relação e disse que “só Deus e Freud poderiam explicar” por que seguiram caminhos diferentes. A atriz foi descrita como “mais única” do que qualquer pessoa que o mundo já viu.
Os dois viveram um romance e atuaram juntos em clássicos como "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), que rendeu o Oscar à atriz no ano seguinte e do qual Allen também foi diretor.
Woody Allen, aliás, costuma evocar tanto admiração quanto polêmica. Ele se tornou sinônimo de comédia sofisticada, introspecção urbana e uma boa dose de ironia.
Nascido em 1935, em Nova York, Allen Stewart Königsberg, mais conhecido como Woody Allen, começou sua carreira no humor. Ele completa 90 anos no dia 30 de novembro de 2025. E sempre trouxe ao cinema histórias envolventes e de grande carga emocional.
Aos 16 anos, começou a escrever piadas e textos humorísticos, fazendo sua estreia na televisão nos anos 50. Sua habilidade para fazer o público rir logo o levou ao cinema.
Nas telonas, tornou-se um nome emblemático, com uma carreira que atravessa décadas e muitos filmes que se tornaram referências, como "Noivo neurótico, noiva nervosa" (1977), "Manhattan" (1979) e "Meia-noite em Paris" (2011), entre tantos outros.
Embora seu início como roteirista de comédia para programas de televisão tenha sido modesto, Allen rapidamente se destacou como cineasta, criando comédias sofisticadas.
Muitas vezes, suas obras eram imbuídas de uma ironia afiada e um olhar crítico sobre os relacionamentos humanos e as ansiedades existenciais.
O sucesso foi imediato, e ele passou a dirigir um filme por ano, sempre procurando diferentes aspectos da vida moderna e da psique humana, com uma filmografia extensa e variada.
Em "Noivo neurótico, noiva nervosa", por exemplo, Allen abordou de forma única o caos das relações, enquanto em "Manhattan" ele fez uma ode à cidade que jamais deixou de ser um de seus cenários mais icônicos.
Seus filmes, frequentemente protagonizados por ele mesmo, são como uma exploração constante de sua própria mente e do mundo à sua volta. O que sempre se destacou em seus filmes foi a combinação de comédia e drama.
Além disso, sua capacidade de abordar temas como infidelidade, o destino e a busca pelo significado da vida de forma profunda, mas sem perder o tom irônico e cômico.
Em filmes como "Meia-noite em Paris", Allen se apropria de um dos cenários mais românticos do mundo e transforma a cidade em uma metáfora para a busca incessante por um tempo que não volta mais.
Porém, como é sabido, a vida de Woody Allen não se limita às telas. Sua vida pessoal sempre foi objeto de controvérsia, especialmente no que diz respeito a seu relacionamento com Mia Farrow, sua ex-companheira e estrela de 13 de suas produções, e as acusações que surgiram em torno de sua família.
Essas questões, muitas vezes ofuscadas pela grandeza de sua obra, marcaram a última parte de sua carreira e afetaram sua imagem pública.
As acusações de abuso contra a filha adotiva do casal nunca comprovadas, mas acabaram afetando a forma como Allen foi recebido no cenário hollywoodiano, especialmente após o movimento #MeToo.
No entanto, apesar das turbulências pessoais, sua obra continua sendo amplamente respeitada pela crítica. Ele, que sempre foi um mestre em dissecar as fobias e ansiedades do intelectual urbano, continuou a produzir filmes com uma originalidade inconfundível. Por conta da repercussão negativa, porém, perdeu apoio nos Estados Unidos e focou em produções na Europa.
Em termos de reconhecimento, Woody Allen possui um impressionante currículo, com 53 indicações ao Oscar, 16 delas na categoria de Melhor Roteiro Original, com três vitórias. Ele também conquistou dois Globos de Ouro e 10 prêmios Bafta.
A crítica especializada costuma elogiar sua habilidade de reinventar a comédia e o drama, sempre com um olhar afiado sobre a sociedade e a condição humana.
Se por um lado sua vida pessoal tem sido marcada por controvérsias, sua carreira no cinema permanece uma das mais consistentes e respeitadas da história do cinema contemporâneo.
E é com essa bagagem que ele chegou aos 89 anos em 2024, com "Golpe de sorte em Paris" sendo possivelmente o último capítulo de uma carreira extraordinária.
Além dos filmes citados, outras grandes obras de Woody contemplam: "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985); "Crimes e Pecados" (1989); "Ponto Final - Match Point" (2005); "Vicky Cristina Barcelona" (2008); "Para Roma com Amor" (2012); "Blue Jasmine" (2013).
Como Woody Allen anunciou, ele planeja se afastar do cinema para se dedicar à literatura, com projetos de romances e coletâneas de escritos. Mesmo assim, com o fim de sua carreira cinematográfica, sua obra continuará a ser uma referência essencial.
Especialmente, é claro, para aqueles que desejam compreender a complexidade dos relacionamentos, da identidade e da busca por um propósito.
Woody Allen será sempre lembrado como um dos maiores cineastas da sua geração, capaz de combinar humor e profundidade de maneira inimitável, mesmo em tempos conturbados.